Vende-se Peugeot 2008 GT de 2021. Versão topo de gama. Carro tão equipado que, se houvesse mais um botão, era para fazer bifes.

Branco nacarado, 47.500 km, tratado como se fosse um unicórnio albino em vias de extinção. Sempre estacionado à sombra, lavado com shampoo pH neutro e motivado com palavras doces antes de cada revisão.

Este carro é tão completo que suspeito que, algures no manual, está escrito “também dá para viajar no tempo, mas só em dias ímpares”.

É a versão GT. G de “Ganda carro” e T de “Tu mereces isto na tua vida”. Tens bancos em Alcantara com costuras verdes, tão confortáveis que a tua coluna vai começar a escrever poemas de gratidão. Painel de instrumentos 3D – repito, TRÊS DÊ – que projeta informação como se estivesses numa nave.

Tem um ecrã central de 10 polegadas, com Apple CarPlay e Android Auto. Ligas o telemóvel, ouves a tua playlist da vergonha, e o carro nem te julga. Volante achatado, que parece saído de um cockpit da Fórmula 1, mas sem o Hamilton a bufar-te na traseira.

Faróis LED com luzes em forma de garra de leão. Estás a ver? Nem o carro escapa ao misticismo da selva. Jantes de 18 polegadas bi-tom – tão bonitas que o vizinho vai reconsiderar o leasing do SUV alemão por um igual a este.

Em matéria de ajudas à condução, este 2008 tem mais sensores que um submarino nuclear: travagem automática, deteção de fadiga (sim, o carro percebe quando estás a bocejar), assistente de faixa, reconhecimento de sinais, e cruise control adaptativo – o carro abranda sozinho, acelera sozinho, e quase que paga o IUC por ti.

Sensores à frente, atrás, e câmara de marcha-atrás com 180 graus. Estacionar isto é tão fácil que até a minha avó (com 99 anos e em cadeira de rodas) se saía bem.

Tem ar condicionado bi-zona – o Santo Graal dos casais com “climas diferentes”. Carregamento wireless para telemóveis. Entrada e arranque sem chave (basta aproximares-te e ele já te quer). Modos de condução: Normal, Sport e Eco – este último ideal para quando queres fingir que és responsável perante o planeta.

Porta-bagagens com 434 litros. Cabe lá tudo: malas, compras, o cão, um pequeno caiaque e talvez uma esperança renovada na mobilidade urbana.

Este carro é tão cool que, se o conduzires com a mão fora da janela, há 63.46% de probabilidade de começares a ser cumprimentado por estranhos.

Está em estado irrepreensível. Sem acidentes, sem riscos, sem dramas. Carro de uma senhora (minha mulher), conduzido com classe, sem acelerações brutais nem drift nos parques do Pingo Doce.

Aceito visitas, test-drives, elogios, flores e talvez um pastel de nata se estiver fresco.

Não aceito trocas por scooters elétricas, packs de proteína ou NFTs de gatos astronautas.

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Este Peugeot não é só um carro. É um capítulo novo na tua vida. Um capítulo com bancos bonitos, luzes que fazem inveja ao Cirque du Soleil e o cheiro a “sou adulto mas ainda Sou cool”.