Volkswagen “desvia” um terço do investimento nos elétricos para motores a combustão

Os automóveis 100% elétricos já representam uma fatia de 22% do negócio da Volkswagen. Ainda assim, a marca considera que os motores a combustão ainda têm muito para oferecer, mesmo que na Europa dos 27 esteja prevista a proibição da sua comercialização a partir de 2035. Por isso, o diretor financeiro e de operações, Arno Antlitz, declarou que o Grupo VW vai continuar a investir milhares de milhões nas tecnologias que vivem do fóssil para garantir que os seus automóveis a combustão se mantêm competitivos.
As declarações de Antlitz não são alheias ao abrandamento da procura por automóveis 100% elétricos, facto que poderá explicar a decisão da VW em voltar atrás na sua estratégia de se tornar um emblema de veículos elétricos.
Ainda assim, a maior fatia de investimento continua a ser canalizada para a mobilidade elétrica: mais de 180 mil milhões de euros na próxima década. Já o sector das mecânicas térmicas terá cerca de um terço daquele valor “para manter os carros de combustão interna competitivos”. Arno Antlitz justificou: “O futuro é elétrico, mas o passado ainda não acabou. É um terço e continuará a ser um terço.”
Gama elétrica da Volkswagen
Atualmente, a VW tem uma gama elétrica que arranca com o familiar ID.3, um “hatchback” do segmento C, que chegou a ter como objetivo substituir o Golf como referência para a sua classe (missão que não cumpriu), propondo ainda o SUV ID.4, o SUV Coupé ID.5 e o executivo ID.7, cada qual com uma variante desportiva GTX, além do icónico ID.Buzz, versão elétrica e futurista da velhinha “Pão de forma”. E, na manga, tem agora um utilitário, que pretende apresentar ao mercado por menos de 20 mil euros, mas cujo lançamento tem vindo a ser adiado.
Conheça e compare todos os modelos elétricos da Volkswagen
O ID.2all foi revelado, há um ano, como um carro do segmento B com espaço de um segmento C e a versão de produção deveria ver a luz do dia em 2025. No entanto, a estreia já foi adiada para o ano seguinte.
Em 2021, o então CEO da VW, Herbert Diess, revelara a estratégia elétrica do emblema, com o anúncio de que a década que se iniciava veria dezenas de elétricos da VW a chegarem ao mercado. No entanto, a forte concorrência de marcas chinesas, como a BYD, a Geely ou a MG, e o abrandamento da procura por carros 100% elétricos levaram a uma revisão daqueles planos, inclusive de criar uma fábrica na Alemanha dedicada apenas a automóveis movidos a eletricidade.
Marcas automóveis reveem planos de eletrificação
A VW não é a única marca a rever os ambiciosos planos de eletrificação: a Mercedes-Benz já não deverá abandonar os motores a combustão até 2030, como anunciado, e vários emblemas estão a recorrer aos sistemas híbridos, com sucesso, para convencerem os clientes mais céticos.
Entretanto, as marcas europeias esperam novidades por parte de Bruxelas para fazer face à “invasão” chinesa e não estão otimistas. Ainda esta semana, é expectável que a Comissão Europeia divulgue as tarifas que planeia impor aos veículos elétricos chineses de forma a contrabalançar o que diz serem subsídios excessivos, uma iniciativa que a indústria europeia está a observar com apreensão, certa de que Pequim optará por represálias, prejudicando as vendas dos emblemas no importante mercado que é a China, mas também as cadeias de abastecimento.
A medida surge menos de um mês depois de Washington ter quadruplicado as tarifas aduaneiras sobre os veículos eléctricos chineses para 100%. Bruxelas deverá estabelecer valores muito mais baixos (os analistas preveem entre 10% e 20%) para as importações de fabricantes chineses.
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