Olhando para Portugal neste ano de 2022, é difícil imaginar um futuro com as estradas repletas de veículos elétricos e consumidores satisfeitos com o seu estilo de vida sustentável. Mas a verdade é que o setor automóvel continua a trilhar o caminho da eletrificação, com a revolução silenciosa a tornar-se cada vez mais audível.
A adesão dos consumidores aos modelos que se “ligam à tomada” aumenta. O Governo anuncia incentivos à compra (ao que parece, para este ano, já estão esgotados). As infraestruturas de carregamento desenvolvem-se. Mas serão os veículos 100% elétricos a solução mais sustentável para a mobilidade do futuro ou não passarão eles de uma visão assente num discurso politicamente correto?
Seja por razões ambientais ou económicas (porventura, ambas), a verdade é que os veículos 100% elétricos têm cada vez mais fãs e parecem ter vindo para ficar. As inovações resolveram muitos dos problemas apresentados pelos mais céticos relativamente a esta forma de mobilidade, como é o caso das autonomias e dos carregamentos.
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A crescente adesão dos consumidores aos veículos 100% elétricos tem feito com que cada vez mais empresas apostem em postos de carregamento. Em 2015, nasceu a MOBI.E com o objetivo de pôr em funcionamento a rede piloto de postos de carregamento e atuar como entidade gestora da mobilidade elétrica.
Em Portugal, existem dois planos de descarbonização em curso. O Roteiro para a Neutralidade Carbónica, que define que o setor da mobilidade e dos transportes seja neutro em termos de emissões no ano 2050, e o Plano Nacional Energia e Clima 2030, aprovado pelo Governo de António Costa em maio de 2020, que projeta como meta para o setor da mobilidade e dos transportes uma redução de Gases com Efeito de Estufa (GEE) de 40% até 2030.
Anos eletrizantes
Há 12 anos que os veículos elétricos fazem parte do léxico do consumidor português, uma vez que 2010 foi considerado o “ano zero” da mobilidade elétrica no nosso país. Nessa altura, a Nissan deu início à comercialização do LEAF e a Mitsubishi fez o mesmo com o i-MiEV, motivadas pela grande aposta do Governo de José Sócrates nas energias alternativas, com a mobilidade elétrica à cabeça.
O Programa MOBI.E desenvolveu-se, os postos de carregamento apareceram e os incentivos fiscais foram sendo criados. Até esteve, imagine-se, para ser construída uma fábrica da Nissan destinada à produção de baterias no nosso país, ideia que viria a cair por terra algumas semanas depois.
A oferta de veículos elétricos tem vindo a aumentar de ano para ano em Portugal. O aparecimento destas propostas veio revolucionar não apenas o conceito de mobilidade urbana, mas a forma como os consumidores se relacionam com o próprio automóvel.
A opção por modelos sem emissões poluentes na utilização, sem recurso a combustíveis fósseis e (quase) sem ruído de funcionamento pressupõe uma alteração dos hábitos de condução e uma maior “consciência ambiental”. Contudo, o preço da tecnologia e a autonomia ainda colocam alguns entraves.
Impulsionados pelas alterações climáticas, que levam à criação de normas ambientais cada vez mais apertadas, os construtores fazem aquilo que lhes compete: desenvolvem automóveis elétricos, dando consistência a um discurso politicamente correto que ultrapassa fronteiras.
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Os consumidores, por seu turno, estão recetivos à mudança, demonstrando maior consciência ambiental e defendendo uma estratégia mais sustentável do ponto de vista energético.
Frieza dos números
Segundo dados da ACAP (Associação Automóvel de Portugal), no mês de junho de 2022, foram matriculados, em Portugal, 5.011 veículos ligeiros de passageiros novos elétricos, plug-in e híbridos elétricos, ou seja, -11,2% do que no mesmo período do ano anterior. Contudo, com 1.652 unidades vendidas no sexto mês deste ano, os veículos movidos a bateria (BEV) registaram um crescimento de 24,1%.
Já de janeiro a junho de 2022 as matrículas de novos veículos ligeiros de passageiros elétricos, plug-in e híbridos elétricos totalizaram 27.041 unidades, o que se traduziu numa variação positiva de 17,2% relativamente a período homólogo de 2021. Nesses seis meses, o crescimento dos veículos movidos a bateria (BEV) foi de 62,7%, que registaram 7.637 unidades.
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No caso dos novos veículos ligeiros de mercadorias elétricos, plug-in e híbridos elétricos, no sexto me?s de 2022, verificou-se uma evolução positiva de 73,7% comparativamente ao mesmo mês do ano passado, situando-se em 33 unidades matriculadas. Nos modelos movidos a bateria (BEV), a subida foi de nada menos do que 94,1% em junho de 2022 face a junho de 2021.
De janeiro a junho deste ano, dos 350 novos veículos ligeiros de mercadorias elétricos, plug-in e híbridos elétricos vendidos no nosso país (+224,1% face aos primeiros seis meses do ano anterior), 341 foram movidos a bateria (BEV), ou seja, +244,4% face a janeiro-junho de 2021.
Terminamos com o top 5 das marcas mais vendidas em Portugal no mês de junho de 2022 no que diz respeito a veículos elétricos ligeiros de passageiros: Tesla (459 unidades); Hyundai (167 unidades); BMW (156 unidades); Peugeot (151 unidades); Dacia (122 unidades).
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