A Tesla foi criada com o objetivo de ser uma marca de automóveis totalmente elétricos e sem que a gasolina ou diesel entrasse sequer no seu vocabulário. O seu primeiro modelo, o Roadster, usava o mesmo chassis de um Lotus Elise, mas com todas as conversões necessárias para a locomoção ser exclusivamente alimentada por eletricidade e o Tesla Model S, o primeiro modelo a ser desenvolvido de raiz por este construtor, apenas tinha a eletricidade em mente e em momento algum foi considerada a opção de um incluir um motor térmico nesta gama. Mas a questão é: “Será que é possível?”.
Antes de se responder a esta questão, temos de recuar um pouco no tempo. Há cerca de seis anos, Rich Benoit e Carl Hewitt criaram um canal no YouTube (Rich Rebuilds) com o propósito de ir mostrando o “salvamento” de um Tesla Model S que tinha sido destruído numa cheia. Não demorou muito tempo até estes dois criadores de conteúdos perceberem que, afinal, este projeto ia ser mais complicado do que o inicialmente previsto, mas, em vez de desmoralizarem, ficaram ainda mais entusiasmados e dedicados a conhecerem o “outro lado” desta nova marca americana de automóveis, em termos de ligação ao cliente, facilidade de obtenção de peças e diversos outros episódios, que começaram a ser acompanhados por muitos subscritores do canal.
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Como a salvação de um Tesla levou a uma legião de seguidores
O canal “Rich Rebuilds” cresceu bastante e transformar Teslas aparentemente sem salvação em modelos que poderiam regressar à estrada tornou-se um hobby para estes youtubers e também para muitos dos seus seguidores, criando uma espécie de alternativa de mercado para peças usadas e partilha de conhecimentos no mundo dos modelos da marca, quando não era possível contar com a própria Tesla.
Por entre os vários seguidores, foram surgindo os modelos não-tesla que usavam os motores elétricos da marca e diversas outras transformações, até que, um dia, surgiu mesmo a ideia: “Porque não colocar um motor a gasolina num Tesla?”. No início, a ideia pareceu algo disparatada e houve mesmo quem dissesse de imediato que não era possível. Mas isso só fez com que a equipa ficasse ainda com mais vontade de fazer com que esta ideia se tornasse mesmo realidade.
Uma alteração mais complicada do que parece
Primeiro, o planeamento. Afinal, para passar a ter um Tesla equipado com um motor a gasolina, não basta colocar o motor lá dento. É também precisa uma caixa de velocidades, um eixo de transmissão, um depósito de combustível, um novo sistema de arrefecimento, um sistema de escape e tantas outras coisas que deram origem a uma enorme lista. Mas além de tudo isso, há ainda outra dificuldade. O Tesla Model S não foi pensado para motores de combustão, pelo que é também necessário efetuar algumas modificações na plataforma, necessárias para encaixar a caixa de velocidades e fazer a potência chegar ao eixo traseiro. E para complicar ainda mais as coisas, foi decidido que neste modelo, a caixa de velocidades seria manual, o que também obriga à instalação de um novo pedal.
Depois do planeamento, foi iniciada a caça às peças e aos carros “dadores”, alguns deles provenientes de acidentes ou de “experiências” para redes sociais que são tudo menos interessantes, mas que conseguem deixar alguns componentes intactos, muitos deles que não se costumam ver, mas que fazem uma falta enorme, como a estrutura onde encaixa o tablier, por exemplo, ou alguns reforços do chassis, necessários para compensar a ausência da bateria.
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A escolha do motor
E finalmente, depois de reunidos quase todos os componentes, é hora de meter mãos à obra, começando por tentar encaixar o motor no lugar, inicialmente com um molde fabricado em esponja, e tentar perceber o que precisa de ser feito. O motor em causa é um V8 de 6,2 litros com cerca de 426 cavalos, proveniente de um Camaro e que já inclui uma caixa de velocidades manual, como desejado. E do mesmo Camaro, veio também o diferencial traseiro, que também requer diversos ajustes na subestrutura da suspensão para que tudo fique no sítio certo.
No meio de um processo que precisou de quase dois anos, foi também necessário integrar todos os quilómetros de cablagens, os sistemas eletrónicos, monitores, altifalantes, sistemas de iluminação e até detalhes como os atuadores dos puxadores das portas, que saem para fora quando o carro se destranca e recolhem quando está trancado. E tudo isto, além dos componentes mecânicos além do motor, como os travões, a suspensão e tantas outras coisas que foram levadas em consideração para que este carro possa ser conduzido sem qualquer dificuldade, mas que são de uma enorme complexidade para se integrarem com o resto do conjunto.
Em determinada altura, foi decidido que o comando da caixa de velocidades seria um sequencial e que a suspensão seria hidráulica. E tirando o poderoso som que sai do sistema de escape sempre que este Tesla é ligado, não existem grandes diferenças para um modelo convencional. A resposta à questão de se era ou não possível ficou respondida de uma forma afirmativa e a estreia do Tesla V8 foi feita em pleno SEMA de Las Vegas, com muitos curiosos a quererem ver de perto a criação da equipa de Rich Rebuilds. O Tesla V8 continua a ser usado com frequência e a ser melhorado para que fique na sua melhor forma possível. E foram tantos os momentos divertidos e as aventuras que ficaram para contar, que é perfeitamente possível que a equipa volte a fazer algo semelhante. Porque não?
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