A Toyota deu um passo inusitado: lançar um automóvel em Portugal, sabendo de antemão que, não obstante o ter no catálogo, as vendas rondariam o zero. Mas, acredita a marca nipónica, apenas criando a necessidade se começará a investir numa rede de abastecimento de hidrogénio.
O que significa isto? Que é perfeitamente possível ter um automóvel que, além de não poluir, limpa o ar (é seguir para a secção de motor para compreender como funciona), mas que o seu abastecimento será quase tarefa impossível: há alguns postos, privados, mas a pressão de carregamento não permite encher os depósitos com os 5,6 kg necessários para percorrer 650 quilómetros.
A criação de uma rede de abastecimento é uma ambição governamental e as primeiras sementes já foram lançadas, com o anúncio do investimento do consórcio internacional MadoquaPower2X, de mil milhões de euros, para a construção de uma unidade de produção de hidrogénio verde, em Sines. Porém, depois do chanceler alemão, Olaf Scholz, ter considerado, no fim de maio, que Portugal é um “parceiro interessante” na área do hidrogénio verde, as recomendações da Comissão Europeia para o país limitam-se às interligações elétricas, deixando de lado a aposta no hidrogénio verde.
Seja como for, mesmo sem posto de abastecimento, o carro está aí, capaz de mostrar por que o hidrogénio é uma energia para levar a sério.
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Design exterior
Inserindo-se no segmento D e apresentando-se como um automóvel premium, o Mirai é um exercício entre elegância e aerodinâmica.
Graças a uma nova plataforma, a GA-L de tração traseira, o Mirai de segunda geração apresenta-se mais baixo (6,5cm), mas maior em comprimento, com benefício em termos de espaço (a distância entre eixos aumentou significativos 14cm) e em largura.
O capô foi alongado e as rodas cresceram (jantes de 19 e 20 polegadas), mas o que verdadeiramente impressiona é a linha descendente do tejadilho, que lhe confere um visual mais executivo, piscando o olho aos diretores de empresas, que, graças à energia que lhe dá vida, têm benefícios fiscais.
Habitáculo espaçoso
A utilização da plataforma GA-L permitiu que o carro ganhasse um habitáculo espaçoso, que se tornou capaz de acolher cinco ocupantes (a anterior geração era de quatro lugares). Para tal, contribui a nova configuração de todo o sistema que dá vida ao carro.
Mas a Toyota não se contentou em ganhar apenas mais espaço. O habitáculo destaca-se também pela seleção de materiais nobres: pele suave ao toque, materiais e texturas metalizadas, além de uma construção irrepreensível.
A posição de condução é confortável e o banco fornece um bom apoio lombar, sem que haja motivos para queixas. No assento traseiro, dois viajarão com maior tranquilidade, mas não se pode negar que um quinto lugar pode dar sempre jeito.
Motor
A nova plataforma permitiu acrescentar um terceiro depósito de combustível de hidrogénio. Assim, passa a poder ser carregado com 5,6 kg, o que, no limite, pode dar para mil quilómetros, como a marca nipónica comprovou num teste por estradas francesas. Claro que os 1003 km foram feitos em situações excecionais. Mas a autonomia real não é de desprezar: 650 quilómetros com um único abastecimento.
A pilha de combustível utiliza um polímero sólido, como acontecia na anterior geração, mas foi tornada mais pequena e tem menos células (330 em vez de 370). No entanto, estabelece um novo recorde de densidade de potência específica de 5,4 kW/l (excluindo as placas terminais). A potência máxima subiu assim de 114 kW para 128 kW.
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A unidade incorpora também o Conversor DC-DC da Célula de Combustível (FDC) e peças modulares de alta tensão, todas redimensionadas para poupar espaço e peso. A mesma abordagem de poupança de peso foi aplicada a outras partes do sistema.
A energia criada a partir do hidrogénio é abastecida numa nova bateria de iões de lítio de alta tensão, que substituiu a unidade de níquel-hidreto metálico. Embora menor em tamanho, é mais densa em energia, dando maior rendimento.
Outra novidade é um filtro do tipo catalisador incorporado na entrada da admissão de ar. Aquele, captura partículas microscópicas de poluentes, incluindo dióxido de enxofre (SO2), óxidos nitrosos (NOx) e PM2,5, o que faz com o que o ar que é devolvido à atmosfera sai limpo.
Ao volante do Toyota Mirai
Basta pensar na solução da tração traseira para imaginar que este não é carro aborrecido de se conduzir. Aliás, esse foi um dos maiores desafios da equipa da Toyota: criar um automóvel amigo do ambiente que se apresentasse como uma opção não só racional, como também emocional.
Como qualquer carro movido a eletricidade, o Mirai prima pelo silêncio, e até as vibrações e os ruídos do rolamento foram anulados por uma série de soluções. Assim, é a tranquilidade e a ausência de barulho que assumem as notas dominantes. Mas não necessariamente: para quem não dispensa a sensação de “ouvir o motor”, a marca nipónica criou o sistema de Controlo Ativo do Som, que permite ter no habitáculo sonoridades diferentes consoante a utilização do pedal do acelerador.
A dinâmica pode ainda ser comprovada na forma como se faz às curvas e rapidamente se desfaz delas. Por isso, será sempre uma escolha adequada para estradas sinuosas. Já em autoestrada ou pela cidade é a serenidade que domina a condução – até pelo bem dos consumos e consequente autonomia.
Quanto custa o Mirai?
O preço de venda ao público é de cerca de 70.000€, mas as empresas podem deduzir 100% do IVA, sendo que o carro é isento de tributação autónoma.
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