O Tesla Model 3 sofreu uma renovação de meio ciclo ao modelo lançado originalmente em 2017. Mas o facto é que as alterações foram tão cirúrgicas que até podia ser perfeitamente apresentado como um novo modelo.
O certo é que o renovado Model 3, agora com novas e mais versões, mais eficientes e todas elas com autonomias melhoradas, continua a não dar muito espaço de manobra à concorrência quando falamos de 100% elétricos.
Será este mesmo o melhor elétrico que podemos comprar?
O Tesla Model 3 foi o 100% elétrico mais vendido em Portugal em 2024. Num mercado onde 70% das vendas são empresariais, e onde os elétricos competem de forma desigual perante modelos a combustão no que diz respeito à fiscalidade, o sedan compacto da marca de Elon Musk comercializou 6764 unidades no ano passado.
Neste renovado modelo, o design, apesar de continuar futurista, ficou mais consensual, em especial graças ao alargamento das óticas dianteiras.
Longe de ser uma marca convencional, o facto é que a Tesla cada vez mais se assemelha com uma marca tradicional. Não só pela popularização dos seus modelos, que tornam os seus avistamentos nas ruas numa rotina diária, mas também pelo facto de a marca norte-americana, à semelhança das europeias, estarem a caminhar em direções semelhantes: complicando soluções que poderiam ser simples, como a colocação dos piscas no volante, ou fazendo com que todo o automóvel seja controlado através de um ecrã central.
É hoje em dia muito mais aquilo que as une, do que aquilo que as separa. E até mesmo no que diz respeito à qualidade de construção, tão criticada inicialmente nos Tesla de preços mais acessíveis, nestes novos modelos foi melhorada a olhos vistos, fazendo jogo semelhante com qualquer construtor tradicional de volume. A montagem dos diferentes paineis exteriores obedece a critérios estritos e estão perfeitamente alinhados, embora no interior, em alguns elementos houvesse ainda margem para ter mais rigor.
Para melhor perceber o que é realmente o Tesla Model 3, importa desde já focar um ponto: a Tesla não é uma marca premium, não se assume como uma marca premium, e por isso não pode ser comparada a marcas, como por exemplo, uma BMW, Mercedes ou até uma Polestar. Por isso, o argumento preço será sempre imbatível perante qualquer um dos modelos destas marcas, mas é falacioso. No entanto, se compararmos a Tesla diretamente como uma marca de massas, a relação qualidade/preço continua a ser um argumento de peso.
Mas no que diz respeito a tecnologia, embora haja marcas a fazerem progressos notórios neste capítulo, a Tesla continua a marcar a tendência em alguns aspetos, embora o facto de não conseguirmos colocar Apple CarPlay ou android auto é tudo menos uma vantagem. Este sistema de navegação não é de sequer de perto tão feliz como o Waze ou Google Maps. Ou ainda mais além de todos os controlos serem feitos através do ecrã de 15’’, ou do autopilot onde hoje em dia muitas marcas fazem já jogo semelhante àquilo que a Tesla oferece aqui na Europa.
Mas, por exemplo, sempre que fazemos manobras, este Tesla deteta a existência de obstáculos e engrena a marcha correta automaticamente, sem sequer termos que a selecionar. Ou o facto de não só podermos jogar neste ecrã central, utilizando o próprio volante e pedais do carro, ou até podemos assistir à nossa série favorita no ecrã traseiro, um pormenor sem par em qualquer outra marca neste patamar de preço.
Ou por exemplo a aplicação, que para além de nos permitir usar o telemóvel como chave, é uma daquelas que apresenta melhor interface e operabilidade entre todas as marcas que oferecem este sistema.
Ao volante
O Model 3 é o elétrico mais eficiente, e talvez um dos mais silenciosos, que já conduzi. Passei uma semana ao volante da mais recente versão Tração Traseira Long Range, e em auto-estrada conseguimos percorrer mais de 450km, respeitando minimamente os limites legais de velocidade. Numa viagem entre Braga e Lisboa, os consumos ficaram na casa dos 16kwh/100km.
Em ciclo misto, priorizando o tráfego urbano, os consumos baixam, mas não muito significativamente, para a cada dos 13.5kWh/100km, o que nos permite percorrer cerca de 575km da bateria de 75kWh de capacidade útil. Um valor abaixo, e algo distante dos 700km anunciados pela marca para esta versão, mas que ainda assim são muito respeitáveis e o tornam num dos líderes da autonomia, afastando toda e qualquer ansiedade de procura por postos de carregamento.
Nesta versão Performance, lançada em 2024, perdemos cerca de 100km de autonomia real face à versão Long Range Tração traseira, mas ganhamos argumentos em vários outros aspetos.
Para além dos pára-choques e difusor exclusivos a esta versão, o spoiler em fibra de carbono, e alguns apontamentos em fibra de carbono e alcântara também no interior, que lhe fazem ter uma aparência mais desportiva, o Model 3 Performance vem também equipado com estas baquets, que oferecem muito mais suporte para o corpo do que os bancos que encontramos nas versões normais do Tesla Model 3, que confesso, não são as mais confortáveis da indústria.
Mas além dos bancos, este Model 3 performance mostra o seu compromisso dinâmico incluindo jantes específicas, travões de maiores dimensões, um chassis mais dinâmico, suspensão adaptativa, e uma direção mais direta. Não está ao nível de um Polestar 2 com pack Performance, ou até mesmo de um Hyundai Ioniq 5 N. Mas é sem dúvida um elétrico que não sabe só andar em linha reta. Para além dos 3.1 segundos dos 0-100km/h, é capaz de manter o andamento quando a estrada fica mais enrolada.
E a diferença de comportamento dinâmico é notória face a outras versões do Model 3, que mesmo nesta versão renovada que contam novos casquilhos, molas, amortecedores, e inclusive com nova geometria da suspensão, estando por isso muito mais confortáveis do que na primeira versão do Model 3, ainda assim, prezam muito mais pela eficiência do que pela diversão ao volante.
Para ajudar à diversão, o Model 3 performance conta ainda com um menu dedicado à dinâmica, onde podemos ajustar o comportamento do carro à nossa medida, escolhendo uma abordagem mais subviradora, sobreviradora ou até…
No entanto, e apesar dos bancos desta versão performance fazerem realmente toda a diferença na experiência de condução, não estou certo se este o Model 3 mais sensato. A emoção evapora-se muito rápido num 100% elétrico, e os 5.2 segundos que a versão long range de tração traseira demora a acelerar dos 0-100km/h garantem celeridade mais do que suficiente para fazer uma ultrapassagem e alguma diversão.
Quanto a preços, o Tesla Model 3 está disponível no mercado nacional a partir dos 39.900€ para a versão standard range tração traseira, que conta com uma bateria de 57.5kWh úteis, e uma autonomia real a rondar os 400km em ciclo misto.
A versão long range de tração traseira está disponível a partir dos 44.990€, menos 4.000€ do que a versão long range de tração integral. E estendem-se até aos 57.490€ para esta versão performance.
Se é o melhor 100% elétrico do mercado? Não. Há vários aspetos onde este Tesla poderia ser melhor. Mas nenhum automóvel é perfeito, e tendo em conta a relação qualidade/preço deste modelo, tudo aquilo que oferece e colocando-o a par com os seus rivais diretos, escolher um Tesla Model 3 acaba por se tornar a escolha mais racional quando queremos um 100% elétrico apenas para ir do ponto A ao ponto B, não dando grande margem de manobra à concorrência.
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