Bruxelas arranca esta quinta-feira, 4 de julho, com o combate às “subvenções ilegais de Pequim à indústria automóvel chinesa de veículos 100% elétricos”, passando a aplicar taxas adicionais sobre os veículos chineses importados. Estes direitos aduaneiros são provisórios, mas podem tornar-se definitivos em novembro, caso a União Europeia (UE) não chegue a acordo com Pequim.
Aos três fabricantes que participaram na amostra da comissão durante a investigação, a União Europeia (UE) passará a aplicar taxas de 17,4% à fabricante BYD, de 20% à Geely e de 37,6% à SAIC.
Depois de um período em que a maioria das marcas preferiu manter o silêncio (apenas a Tesla, que produz na China o Model 3 e importa essas unidades para a Europa, já tinha anunciado planos para aumentar os preços), escudando-se no facto de estar a estudar a medida, os emblemas anunciaram como pretendem fazer face a esta nova realidade.
BYD
O fabricante chinês de automóveis, que enfrenta o aumento mais baixo das tarifas, de 17,4%, para além dos atuais 10%, ainda não decidiu se vai aumentar os preços dos veículos elétricos vendidos na União Europeia, disseram à Reuters fontes próximas da empresa.
CHERY AUTO
O fabricante chinês de automóveis disse que a sua produção de veículos elétricos em Barcelona, criada através de uma empresa comum com a EV Motors de Espanha, deverá ajudar a compensar as tarifas. A produção em solo europeu deverá começar no final do ano, disse Charlie Zhang, vice-presidente da Chery Auto, citado pela agência Reuters. No entanto, o local não é suficientemente grande para os planos de médio e longo prazo do fabricante, adiantando que a empresa está à procura de um possível segundo local.
MG
A MG, produzida pela SAIC Motor da China, que enfrenta um adicional de 37,6%, tem veículos suficientes em stock para não aumentar os preços até novembro, dando a entender estar esperançosa num acordo.
NIO
A NIO, sujeita a uma tarifa de 20,8% sobre os seus veículos elétricos, também não planeia realizar nenhuma medida extrema até que as regras se tornem definitivas. No entanto, admite ajustar o preço dos seus automóveis na Europa.
POLESTAR
Depois do prejuízo operacional observado no primeiro trimestre, o fabricante de automóveis sueco, propriedade da chinesa Geely, está a estudar “medidas de mitigação” para compensar as tarifas, mas garante que não está em cima da mesa a possibilidade de haver mais cortes nos postos de emprego.
TESLA
Será provavelmente o fabricante de automóveis que mais mexe nos preços dos seus produtos, por isso não é de admirar ter sido dos primeiros a admitir aumentar o preço do seu Model 3, produzido na China, de forma a compensar as tarifas aduaneiras.
XPENG
Prestes a alargar a sua operação comercial na Europa, incluindo, por exemplo, Portugal, a Xpeng garante que todas as encomendas realizadas até à entrada em vigor das tarifas não sofrerão quaisquer aumentos. No entanto, o emblema chinês deixa em aberto a possibilidade de mexer na sua tabela de preços nos próximos meses.
Associações e fabricantes europeias discordam da UE
“Assegurar uma concorrência leal e condições de concorrência equitativas.” Foi desta forma que o diretor comercial da UE, Valdis Dombrovskis, citado pela Reuters, descreveu as novas medidas, considerando que “os Estados-membros também estão interessados em proteger as suas indústrias automóveis da concorrência desleal”.
No entanto, associações e fabricantes europeias não reproduzem o discurso de Bruxelas, pelo contrário. A alemã Volkswagen recordou que se está a atravessar um momento avesso a este tipo de decisões: “O momento da decisão da Comissão Europeia é prejudicial para a atual fraca procura de veículos BEV na Alemanha e na Europa.” A marca é perentória ao declarar que “os efeitos negativos desta decisão superam quaisquer benefícios para a indústria automóvel europeia e, especialmente, para a alemã”.
Também a Porsche, que integra o grupo VW, defendeu “o comércio mundial livre e o diálogo”, chamando a atenção para o facto de “a imposição de tarifas punitivas prejudicar uma nação exportadora como a Alemanha”. E apontou: “Para tornar a Europa tão resistente quanto possível e para continuar a ser bem-sucedida face à crescente concorrência internacional, é necessário acima de tudo uma coisa: condições de localização competitivas a nível internacional.”
Na mesma linha coloca-se a Associação Automóvel Alemã VDA: “A China desempenha um papel decisivo numa transformação bem-sucedida no sentido da eletromobilidade e da digitalização — um conflito comercial comprometeria também esta transformação”, avalia.
A Stellantis, que tem entre as suas 14 marcas vários emblemas europeus, como a Fiat ou a Peugeot, também se manifestou desde o início contra a iniciativa, com o CEO do grupo, Carlos Tavares, a considerar que este protecionismo vai acabar por penalizar o consumidor.
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