A ansiedade da autonomia limitada gerada pelos carros elétricos pertencerá ao passado dentro de poucos anos, na opinião dos maiores especialistas mundiais em química de baterias. Mas, por enquanto, é uma questão sensível, por não chegar (ainda…) para se comparar à da maioria esmagadora dos veículos com motor de combustão.
Qual é a verdadeira autonomia do automóvel elétrico que vai comprar? Quão preciso é o valor de homologação divulgado pela marca? Estas são as grandes dúvidas para a maioria dos potenciais clientes que não pode recarregar o carro elétrico em casa devido à falta de infraestrutura, por habitar em prédio multifamiliar ou por não dispor de estacionamento.
A verdade é que, em utilização quotidiana, real, a autonomia é inferior à prometida pelos ciclos de testes de homologação de consumos, que dão a nítida sensação de serem feitos em laboratórios. Desde logo, porque nem todo o consumo é devido às necessidades do motor para movimentar o veículo, aquecer ou arrefecer o habitáculo e fazer funcionar todos os sistemas de bordo, incluindo os que dizem respeito ao arrefecimento das baterias instaladas no carro. Está provado que existem fatores que impactam na autonomia dos elétricos, e as condições meteorológicas são um deles.
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Um estudo realizado pelos britânicos da What Car?, em parceria com a Move Electric, publicação especializada em mobilidade elétrica, demonstrou inequivocamente que as temperaturas baixas reduzem drasticamente a capacidade das baterias.
A equipa de especialistas testou dez dos modelos elétricos mais populares do mercado percorrendo a mesma distância com temperaturas a rondar os 7º C, no inverno. Estes resultados foram comparados com aqueles obtidos pelos mesmos carros, durante os mesmos trajetos, a uma temperatura “ótima” de 21º C, para determinar o impacto da temperatura no rendimento dos veículos elétricos e quais os modelos que perdem mais autonomia com a diminuição da temperatura.
No estudo comparativo que reuniu os modelos Audi Q4 e-tron, BMW iX3, Fiat 500e, Ford Mustang Mach-E, Kia EV6,MG 5, Porsche Taycan, Skoda Enyaq, Tesla Model 3 e Tesla Model Y, todos os carros elétricos aceleraram num circuito com cerca de 24 quilómetros de extensão, que incluía 4,2 quilómetros de condução em pára-arranca para simular o trânsito de todos os dias nas cidades, mais 6,5 quilómetros a circular à velocidade estabilizada de 80 km/h e 12,9 km à velocidade cruzeiro de 113 km/h.
As medições demonstraram que os automóveis podem perder até 20% da sua autonomia no ambiente frio.
Por que encolhe a autonomia com o frio?
As temperaturas baixas afetam as reações químicas que devem ocorrer nas baterias para que estas funcionem, mas as quebras acentuadas em climas mais frios são também em grande parte justificadas pela utilização da energia para aquecer o líquido de refrigeração. Assim a autonomia em viagens curtas é especialmente afetada, uma vez que o veículo tem menos tempo para aquecer.
O Porsche Taycan 4S Performance registou a perda mais significativa. No teste de inverno, o desportivo elétrico alemão conseguiu uma autonomia de 360 quilómetros com carga completa – uma quebra de 20,1% em comparação com os 452 quilómetros alcançados durante o verão.
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O Ford Mustang Mach-E Extended Range RWD (18,% abaixo do valor de verão), o Skoda Enyaq iV 60 (perda de 15,7%) e o Fiat 500 42kWh (menos 15,2%) foram os outros modelos mais afetados com as diferenças de temperaturas.
Bomba de calor
A autonomia de um carro elétrico é, como referido, o resultado de muitos fatores. Depende, obviamente, da capacidade das baterias, mas também da eficiência energética geral, que os construtores tentam otimizar em todos os detalhes para conseguir percorrer mais quilómetros entre carregamentos. O que este estudo também permitiu observar é que os modelos equipados de série com bomba de calor alcançam resultados francamente mais animadores.
Comparativamente com um veículo a combustão, os componentes de acionamento de um veículo elétrico não geram calor residual suficiente para aquecer suficientemente o habitáculo.
O sistema da bomba de calor aproveita o calor emitido pelos componentes elétricos e recicla-o para aumentar a eficiência dos sistemas de aquecimento e ventilação. Esta solução usa menos energia da bateria para o aquecedor de alta tensão em comparação com os veículos elétricos que não possuem uma bomba de calor. E, ao minimizar o consumo de eletricidade pela bateria, a bomba de calor contribui para a utilização total da autonomia do veículo no inverno.
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