Ao longo da História do automóvel há exercícios belíssimos de design, sobretudo das marcas com mais dinheiro para investir na ideia de tratar um carro como uma rara joia. Porém, até no melhor pano cai a nódoa, e um dos veículos que angariou mais esgares de estranheza do que gritinhos de euforia foi o Porsche 924 que, em Portugal, teve um exemplar célebre: do futebolista Paulo Futre, que escolheu uma versão a amarelo canário que não passou despercebida a ninguém.
Bom… na verdade, Futre não escolheu a cor do carro que Jesus Gil y Gil, o presidente do Atlético de Madrid, lhe comprou para o convencer da transferência do FC Porto para Espanha; o futebolista viria a contar que era a única disponível no stand no dia em que aterrou na capital espanhola e que o presidente dos “dragões”, querendo despachar o assunto, lhe terá dito: “O carro é muito bonito, não é, Paulinho?”. E o Paulinho, na altura, não teve coragem de contrariar Jorge Nuno Pinto da Costa.
Mas, voltemos ao 924, que se estreou com uma inovação, ao abandonar o motor traseiro refrigerado a ar – o que também, na época, não convenceu a maioria dos fãs da marca. Fabricado entre 1976 e 1988, o automóvel é verdadeiramente um produto do seu tempo, integrando vários códigos estéticos que se adequam aos penteados de permanentes gigantes ou aos casacos com pronunciados enchumaços nos ombros. E tudo ganhou uma dimensão ainda de pior gosto quando foi apresentada uma versão, criada pela DP Motorsport, com “pinta” de Shooting Brake.
A DP Motorsport, que, à semelhança de casas como a Bertone, Pinifarina e Giugiaro, se dedicava a criar variantes apuradas de importantes modelos, tendo no seu currículo vários trabalhos a partir de modelos da Porsche. Até que, em 1986, se “atira” ao 924, veículo que ficaria para a história como “patinho feio”, e, recorrendo a componentes e painéis da “station wagon” da Volkswagen Passat, cria o Porsche 924 DP Cargo.
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Na época, foram produzidas somente 9 unidades e, apesar de a DP Motorsports ter afirmado possuir kits disponíveis para a criação de mais umas dezenas, o bólide não conquistou assim tantos fãs. Além de a transformação ser dispendiosa – custava qualquer coisa como 25 mil euros, valor que para a época era muito pesado.
Em termos de mecânica, o Porsche 924 DP Cargo foi criado com a declinação Turbo, assente num motor de 2,0 litros de origem Audi, com potência de 170 cv, capaz de atingir os 225 km/h. E se os amantes da Porsche detestaram a ideia da marca austríaca fazer um carro com motor à frente, ainda hoje há quem declare que, tal como no conto de Hans Christian Andersen, o “patinho feio” transformava-se em “cisne” quando se começava a explorar as suas capacidades, apresentando um comportamento dinâmico muito melhor do que o esperado.
Com motor montado à frente, mas a tração nas rodas traseiras, o Porsche 924 DP Cargo exibia uma distribuição equilibrada de peso, facto que não passava despercebido assim que se colocava o veículo a desenhar curvas mais apertadas. O que era bom, já que, em termos de aerodinâmica, o recorte da traseira esticada auspiciava alguma resistência ao ar. Claro que não há, neste caso, senão sem bela: exceto os mais recentes SUV, haverá poucos modelos Porsche com tanto espaço para bagagem.
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Atualmente, a carrinha 924 DP Cargo tem valor comercial sobretudo pelo facto de ser tão rara, mas, avisam os especialistas, é bom ter cautela se surgir a oportunidade de ter uma em garagem: a mecânica não ganhou pontos pela enorme fiabilidade, tendo surgido alguns problemas relacionados com a mesma.
Em 2019, uma das unidades foi posta à venda no eBay por cerca de 33 mil euros, e o facto fez correr tinta, precisamente por se tratar de uma viatura tão exclusiva. Na altura, o anúncio informava que o veículo tinha 128 mil quilómetros e que já tinha beneficiado de uma grande renovação mecânica, incluindo a troca de travões. Na estética, o carro exibia para-brisas e óticas novas.
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