Numa categoria tão exigente como a Fórmula 1, era de esperar que os carros tivessem cada vez menos peso, uma vez que se trata de uma modalidade em que cada milésimo de segundo é importante e o tema do peso sempre foi dos mais comentados. No entanto, o que se tem verificado ao longo dos últimos anos é um crescente aumento do valor final de cada um dos monolugares.
A principal razão está relacionada com os regulamentos técnicos que são fornecidos pela FIA (Fédération Internationale de l’Automobile) a cada equipa no início da cada temporada, para que cada uma delas possa desenvolver o seu carro nesse sentido. E depois, resta descobrir as mais variadas interpretações que cada equipa dá a cada uma das regras e o trabalho que efetuou para que o seu monolugar ficasse o mais próximo possível de acordo com os regulamentos.
É nesta lista de regras que são indicadas todas as medidas mínimas e máximas que cada carro deve ter, que motor deve utilizar, o tipo de combustível, o tamanho das asas, a margem que têm para ajustes no seu desempenho aerodinâmico e muitas, mas muitas outras. E no caso de ser um espetador assíduo, reparou certamente que os monolugares utilizados este ano, estão bastante diferentes dos que estavam a ser utilizados no ano passado. E, mais uma vez, todas estas diferenças fazem parte dos documentos técnicos da FIA que são fornecidos a cada equipa, para que todas possam desenvolver um carro que seja competitivo, mas que não seja muito diferente das restantes equipas. O peso pretendido a atingir (sem incluir o combustível) é o mais reduzido possível, para que o carro seja o mais competitivo em pista, mas que também fique dentro do valor mínimo indicado para não ser considerado ilegal.
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Mas afinal, quais são as maiores diferenças?
A maior diferença que acaba por penalizar o valor do peso está relacionada com a segurança, o mesmo objetivo que deu origem a soluções como o Halo, estreado em 2018, e que levou a um aumento do peso mínimo de cada monolugar em cerca de seis quilos. De forma a proteger mais os pilotos em caso de acidente, a secção dianteira de cada monolugar foi completamente redesenhada e está agora preparada para absorver mais 50 por cento da energia derivada de impactos e o chassis do carro inclui agora diversos reforços laterais para que este consiga resistir ainda mais a impactos laterais. Nos testes de colisão, e segundo as regras, o chassis de cada modelo deverá ter a capacidade de absorver mais 48 por cento de energia nos embates dianteiros e cerca de 15 por cento nos embates na traseira.
Além disso, o posicionamento do motor foi também repensado depois de acidentes como o de Grosjean, no ano passado, e está agora mais preparado para que se possa separar mais facilmente do chassis em caso de acidente e sem que haja derramamento de combustível. Só estas alterações, contribuíram para que o aumento de peso em cada monolugar chegasse aos quinze quilos, mas este é ainda o início.
Com a chegada dos novos modelos, surgiram também jantes e pneus com uma dimensão mais generosa, em vez dos tradicionais conjuntos com jantes de 13 polegadas de diâmetro que eram usados em diversas configurações desde os anos 80. Com os novos modelos, as jantes aumentam o seu diâmetro em cinco polegadas, passando para as 18 polegadas e o tamanho dos pneus também é agora um pouco maior. Além disso, e com o objetivo de melhorar a aerodinâmica e proteger componentes como os travões, estão também de regresso os tampões para as jantes. E no final, claro que tudo isto contribui para um aumento de peso de todo o conjunto, com cerca de 15 quilos a mais do valor indicado pela calculadora.
O valor mínimo a alcançar
O aumento de peso que tem sido verificado ao longo dos últimos anos chega assim a um valor mínimo de 795 quilos para cada um dos modelos desta temporada, cerca de 43 quilos a mais do que o dos monolugares de 2021. E para ter uma ideia daquilo que os valores têm aumentado, podemos ainda referir que, entre o ano 1995 e 2008, por exemplo, o valor de peso mínimo para cada um dos monolugares era de apenas 595 quilos. Em 2009, o último ano em que foram permitidos os reabastecimentos, o peso mínimo era de 605 quilos. Mas agora, sem reabastecimentos, cada um dos monolugares terá de incluir o peso de um depósito de combustível cheio no início de cada corrida, o que se traduz num peso em torno dos 110 quilos, que são somados aos 795 do valor mínimo, ou seja, mais de 900 quilos.
Por todas estas razões, mas também por diversas outras como o tamanho superior de cada modelo face ao de anos anteriores, tudo contribui para que os carros de Fórmula 1 tenham subido consideravelmente de peso nos últimos anos e especialmente na passagem da temporada passada para a atual. E, na prática, há mesmo quem diga que o tempo cronometrado de cada volta nunca será tão baixo como os valores registados no ano passado. Ainda assim, o campeonato está mais competitivo para diversas equipas e já tivemos diversas provas de que os pilotos estão mesmo mais protegidos e seguros. Se for esse o preço a pagar por uns quilos extra em cada lugar, então, será sempre um bom investimento.
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