Sete títulos de construtores, mais de 100 vitórias em Grandes Prémios, vários recordes batidos. O domínio da Mercedes na Fórmula 1, na era dos motores V6 turbo com tecnologia híbrida, tem sido avassaladora.
Mas por que razão é a Mercedes-AMG Petronas Formula One Team imbatível? Devido a uma combinação de fatores, como, por exemplo, bons engenheiros, bons designers, estratégia, pilotos e liderança de excelência, motor, aerodinâmica, inovação e recursos financeiros.
Os primeiros anos da Mercedes na Fórmula 1
Os primeiros três anos da Mercedes-Benz na Fórmula 1 foram de trabalho árduo para que as coisas corressem bem. De 2010 a 2012, a marca terminou o Mundial no 4.° lugar. Em 2013, conseguiu chegar ao final da temporada no 2.° posto. A partir de 2014, o seu domínio foi avassalador.
O que tornou, então, a Mercedes-AMG Petronas Formula One Team imbatível? A pergunta é legítima e remonta ao verão de 2011, quando a Fórmula 1 anunciou a sua intenção de utilizar apenas motorizações híbridas V6 turbo a partir da temporada de 2014.
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Motores de excelência
Graças à sua experiência na construção de motores nas últimas duas décadas para a McLaren, a Mercedes-Benz estava numa posição privilegiada para construir um motor de excelência face à concorrência.
Para isso, a marca alemã adotou uma abordagem radical. A sua sede de motores em Bricsworth, Inglaterra, foi utilizada para construir um motor que se concentrasse em maximizar a performance, acabando por ter um peso final de 250 kg.
Apesar das mudanças exigentes a que os bólides se veem obrigados todos os anos, existem características dos silver arrows que se mantêm consistentes ao logo dos anos. Enunciemos, então, as cinco razões que estiveram na origem da supremacia da Mercedes-AMG Petronas Formula One Team na prova-rainha do desporto automóvel.
Os fatores que explicam o sucesso
Pilotos
Os primeiros anos da equipa contaram com o jovem Nico Rosberg e com o regresso do sete vezes Campeão do Mundo Michael Schumacher. Mesmo que a Mercedes-Benz não tivesse atingido nenhum desempenho tangível, muitos acreditam que foi Michael Schumacher quem ajudou a estabelecer as bases e a formar a cultura profissional e trabalhadora que levou a equipa a dominar a modalidade de 2014 em diante.
Depois de Michael Schumacher se ter retirado, em 2012, a Mercedes-Benz contratou Lewis Hamilton. A combinação deste com Nico Rosberg provou ser muito forte, tendo a equipa ganho, entre ambos, três campeonatos. Nico Rosberg deixou a equipa em 2016 e Valtteri Bottas entrou, atuando como o número dois. Na presente temporada, a Mercedes-AMG Petronas Formula One Team alinha com Lewis Hamilton e George Russell.
Motor
A Mercedes-Benz apostou num design único, que nem Ferrari nem Renault dispunham. A marca alemã tinha um projeto de motor turbo “dividido”, em que o compressor estava ainda mais separado da turbina no bloco do motor, sendo atravessado por um veio de transmissão.
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Simplificando, esta solução veio melhorar tudo. Não só otimizou a refrigeração do monolugar (ao afastar o compressor do calor provocado pela turbina, permite a entrada de ar mais denso no motor), como trouxe, também, mais potência, melhorou a aerodinâmica e fez com que o monolugar passasse a ter menor coeficiente de arrasto.
Desde 2014 que a Fórmula 1 utiliza motores V6 híbridos de 1,6 litros, capazes de atingir 900 cv e mais de 12.000 rpm, como é o caso do da Mercedes-Benz.
Aerodinâmica
Esta área desempenha um papel crucial no monolugar. E contempla três secções: “nariz”, piso e asa traseira. O “nariz” proporciona o efeito de downforce no eixo dianteiro e permite escoar o ar para trás através de canais específicos para arrefecer, por exemplo, travões e pneus. O “nariz” é composto por diversas camadas e “guelras” que se destinam a direcionar o ar e evitar o fenómeno da turbulência.
O piso é outra das secções importantes, sendo plano ao centro e ligeiramente curvo nas áreas dianteira e traseira para conferir um design tipo asa. Está dotado de vários canais e difusores para permitir que o ar circule rápido quando o monolugar se desloca depressa, empurrando-o contra o solo.
Quando à asa traseira, que dispõe de lâminas laterais, a sua função é criar um efeito de downforce, exercendo pressão nos pneus posteriores contra o circuito. O difusor existente nesta zona também desempenha um papel crucial no escoamento do ar. A asa traseira é regulada em função do circuito de Fórmula 1 onde o monolugar alinhará.
Combustível
Fator muitas vezes ignorado, o combustível é mais importante do que aquilo que se possa pensar. A Petronas é a empresa que fornece combustível para a equipa Mercedes-Benz. Mas não só. Também fornecem todos os fluidos e lubrificantes para o motor.
Em 2017, a Mercedes-Benz alcançou 50% de eficiência térmica, o que é, de facto, um resultado incrível. Para colocar este valor em perspetiva, basta referir que os motores da Fórmula 1 obtêm, em média, 25% de eficiência térmica no seu melhor.
Se pensarmos que o reabastecimento não é, hoje, permitido na Fórmula 1, dá para perceber a importância do consumo de combustível. Na grelha de partida, os monolugares podem começar a corrida com 110 kg de combustível no depósito, o que não chegará se o piloto “andar sempre a fundo”.
Ora, se o motor for mais eficiente, necessitará de menos combustível. Logo, na grelha de partida pode transportar menos carburante, tornando-se, por isso, mais leve na corrida. Ou permitirá queimar mais combustível no arranque, conseguindo maior potência.
Inovações
Existem outras inovações que ajudam a explicar a supremacia da Mercedes-Benz na Fórmula 1. Como o design das rodas traseiras, que, ao incluir secções ventiladas, permite que o ar circule através delas, fazendo com que os pneus de trás não atinjam temperaturas muito elevadas e refrigerando os travões traseiros.
Em 2020, apareceu a inovação da Mercedes-Benz, porventura, mais controversa: DAS (Dual Axis Steering). Como funciona? Empurra-se o volante para baixo para as rodas da frente convergirem (viram-se para dentro); puxa-se o volante para as rodas da frente divergirem (viram-se para fora).
Ainda subsistem dúvidas quanto à mais-valia trazida por esta solução inovadora. Uma das teorias destaca a ajuda que este sistema dá em curvas apertadas, uma vez o monolugar da Mercedes-Benz tem uma longa distância entre eixos. Fazer convergir as rodas pode permitir tornar o carro mais direito e mais estável a velocidades elevadas. Por outro lado, fazer divergir as rodas, pode fazer com que seja mais fácil inserir o carro em curva.
A hipótese mais provável aponta para a vantagem que o DAS traz durante o período em que o safety carentra em pista. Como os pneus de Fórmula 1 necessitam de estar quentes para proporcionar aderência, esta solução permite, na fase atrás descrita, que os monolugares da Mercedes-Benz aqueçam os pneus ao fazer convergir e divergir as rodas.
Esta ação gera fricção e a fricção gera calor. Quando chega a altura da nova partida, os carros da marca alemã estão com os pneus quentes enquanto a concorrência está ainda no “modo frio”.
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