A eletrificação do mundo automóvel e a crescente procura por automóveis totalmente elétricos está a ganhar uma dimensão cada vez maior. Ainda que muitos construtores nos continuem a fazer focar nas propostas de como serão os seus produtos no futuro, já há problemas no presente que têm uma urgência cada vez maior. Por exemplo, o que se vai fazer com as baterias dos automóveis elétricos que já não servem para os equipar?
Como todos sabemos, cada sistema de baterias de um automóvel totalmente elétrico, é um conjunto de componentes que inclui diversas peças e bastantes módulos de pequenas baterias (de lítio, na grande maioria dos casos) ligados entre si, que tem a desvantagem de ir perdendo a sua capacidade com o passar do tempo, mais ou menos a uma média de dois pontos percentuais a cada ano. Além disso, é um componente bastante grande e igualmente pesado, que não se pode simplesmente varrer para debaixo de um tapete. Como agravante, não se trata de um, nem dois, nem 100. Segundo a União Europeia, até ao ano 2030, vão existir cerca de 30 milhões de automóveis elétricos a circular nas estradas europeias, fora o resto do planeta, e cada um com o seu respetivo sistema de baterias.
Além do desenvolvimento dos sistemas de baterias mais avançados e que permitam um melhor desempenho e autonomia aos automóveis 100 por cento elétricos, há diversas marcas que já estão a pôr em prática diversas soluções que poderão dar uma ajuda com este problema das baterias. No caso da Nissan, por exemplo, os módulos de bateria do Leaf que já não servem para alimentar o sistema elétrico do carro, estão a ser utilizadas nos veículos autónomos que entregam os componentes aos trabalhadores das suas fábricas. E a Volkswagen também já adotou esta solução, mas não colocou de parte a vertente da reciclagem dos sistemas de baterias que incluem o seu desmantelamento. Numa unidade criada justamente para esta finalidade, a marca alemã espera conseguir reciclar até 3.600 sistemas de baterias por ano numa fase inicial.
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Forte aposta na reciclagem
A solução da reciclagem de todos os componentes, incluindo os diversos módulos de cada sistema, ainda é a que parece mais viável, ainda que seja um processo moroso e bastante dispendioso. Muitos sistemas contam com diversos componentes soldados ou colados com o objetivo de oferecem o máximo de resistência ao longo do seu período de utilização. E essa é uma das razões que levou diversos construtores a otimizar o desenvolvimento e a construção de cada sistema, já tendo em conta o seu final de vida, de forma que todo o processo de reciclagem seja mais simples e se consigam reaproveitar mais componentes, incluindo os diversos módulos de cada sistema.
Em países como a China, por exemplo, cada construtor é considerado responsável pelo impacto de cada um dos seus produtos ao longo de todo o seu ciclo de vida, incluindo as baterias, e há mesmo incentivos financeiros para cada construtor, que têm o objetivo de estimular a utilização de componentes provenientes de reciclagem em vez de apenas continuarem a construir sistemas de baterias totalmente novos, que exigem uma maior exploração de matérias-primas como o lítio, o manganês, o cobalto e o níquel. Em solo europeu, a reciclagem é também a carta com o maior trunfo em cima da mesa, havendo já diversas marcas a anunciar a construção de instalações dedicadas inteiramente a este tema.
Reutilização como alternativa
Em vez de deixar chegar a bateria a um estado de conservação que obriga a sua substituição, há algumas empresas que estão a apostar no desenvolvimento de uma unidade de baterias que possa ser substituída por outra, facilmente, a meio de uma viagem, por exemplo, tal como fazemos com as pilhas comuns. Ou seja, pode ir a conduzir na autoestrada e já com pouca autonomia, entra numa estação de serviço e troca a bateria do seu carro por outra igual, mas totalmente carregada.
A Nio, um construtor de automóveis chinês já presente na Europa, está a levar esta solução bastante a sério e já conta mesmo com autênticas boxes, que trocam a bateria do carro automaticamente em poucos minutos. Este processo faz com que o estado de conservação dos sistemas de baterias fique inteiramente a cargo do construtor, que as pode ir gerindo da melhor forma, nunca deixando de ser eficiente para o sistema de um automóvel elétrico.
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Outro tipo de reutilização das baterias dos carros elétricos é a que elimina o automóvel da equação. Voltando a pegar no exemplo das convencionais pilhas (recarregáveis), os sistemas de baterias podem ser usados como armazenamento de energia com alguma facilidade. Um dos melhores exemplos é o que inclui um sistema de painéis solares, por exemplo, uma vez que a adição de cada módulo de bateria – ainda que se saiba à partida que este já não tem a mesma capacidade de utilização que tinha em novo – permite adicionar mais armazenamento, ideal para as soluções que necessitam de guardar energia para uso de noite, por exemplo, e diversas outras.
A Renault explorou esta solução da melhor forma no projeto que tem desenvolvido na Ilha de Porto Santo, onde são usados antigos sistemas de bateria do Zoe como pontos intermédios de armazenamento e estabilização da energia, entre as várias soluções de captação (eólica e solar) e aquela que é fornecida à rede.
Além de tudo isto, há já inúmeras ideias de reutilização de sistemas de baterias, desde os veículos autónomos de fornecimento de componentes nas fábricas, de que já lhe falámos mais acima até aos novos riquexós da Índia, de visual mais futurista, e que usam sistemas de baterias antigos da Audi.
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