Não fossem os regulamentos desportivos terem mudado em 1999 e um dos melhores carros do mundo talvez não existisse. Conheça a história do Porsche Carrera GT.
O Porsche Carrera GT é considerado por muitos como o último “verdadeiro carro” a ser fabricado. É um carro muito especial e particular de se conduzir, não fosse o facto de não ter quaisquer ajudas à condução, e de ser movido por um potentíssimo motor V10 de 612 cavalos, acoplado a uma caixa manual que debita toda a potência apenas para as rodas traseiras.
Apenas foram produzidas 1500 unidades do Porsche Carrera GT, todas elas entre 2004 e 2007. Novo, custava pouco mais de 400.000€, mas hoje em dia, é praticamente impossível encontrar um exemplar à venda por menos de 1.000.000€!
Mas não é a estética, a potência, ou as peculiaridades deste carro que o tornam tão interessante, mas sim, a sua história, pelo o facto de um conjunto de (in)felizes acontecimentos terem dado aso aos engenheiros da Porsche terem criado um dos melhores carros de sempre.
Porsche Carrera GT: a história
Fonte: Porsche/Divulgação
Os (in)felizes acasos
Felizmente para todos os petrolheads, a Porsche não tem sido a construtora com a maior sorte do mundo sempre que se tenta aventurar nas competições desportivas (excepção claro ao campeonato mundial de resistência, onde por várias vezes se sagrou campeã na famosa prova das 24 horas de Le Mans).
Já com o Porsche 959, o “antecessor” do Porsche Carrera GT, a história só teve um final feliz graças à incrível capacidade de adaptação dos engenheiros desta casa de Estugarda. O 959 foi um carro desenhado para ser um campeão do Grupo B, os míticos carros do campeonato mundial de ralis dos anos 80, mas infelizes acontecimentos levaram à extinção destes monstros, obrigando marcas como a Porsche, que estavam prontas para entrar neste projecto, a arranjarem soluções para não ficarem com os carros estacionados no museu.
E assim foi, a Porsche pegou no 959 para ralis, meteu-lhe uns piscas, luzes, embelezaram o interior, duas matrículas, e já está, este carro teve homologação para circular na estrada.
Com o Porsche Carrera GT, a história foi um bocadinho diferente, até porque este carro foi desenvolvido a partir de um motor já existente, e não de uma carroçaria preparada para corridas.
O motor V10 que equipa este carro foi inicialmente desenvolvido pela Porsche para equipar os carros da Footwork, equipa de Fórmula 1 que participou nos campeonato mundial entre 1991 e 1996. Esta equipa já utilizava motores Porsche na temporada de 1991, mas na época não havia um regulamento que ditasse o número de cilindros que os carros deveriam ter.
A Porsche “emprestava” um motor V12 à Footwork naquela época, mas este era muito pesado e pouco potente, o que levou a resultados desastrosos por parte da equipa com sede em Milton Keynes. A Footwork decidiu então deixar a Porsche e comprar motores V10 à Honda. Motores que deveriam ser menos pesados, e como tal, fazer os carros andarem mais depressa. Mas o resultado foi o mesmo, a Footwork andou sempre na cauda do pelotão.
Anos mais tarde, em 1994 a equipa britânica pediu à Ford para desenvolver um motor V8, e conseguiu assim a melhor temporada de sempre da sua história, conquistando o 9º lugar do campeonato de construtores com 9 pontos somados (naquela época, a vitória apenas valia 10 pontos), mas ao mesmo tempo, a Porsche desenvolvia um motor V10, com 5500 centímetros cúbicos, que prometia dar fiabilidade, potência e competitividade a esta equipa Footwork.
No entanto, em 1995 os regulamentos da Fórmula 1 mudaram, e apesar de ainda não existir uma limitação quanto aos cilindros, existia uma limitação em relação à cilindrada: 3000 centímetros cúbicos era o máximo que cada motor podia ter. Ou seja, este V10 da Porsche foi desenvolvido para Fórmula 1, mas nunca foi usado por nenhum carro, e ficou “arrumado” numa garagem durante 5 anos.
Ora 5 anos mais tarde, a Porsche recuperou este motor para utilizar num protótipo para correr nas 24h de Le Mans, o 9R3, que seria o sucessor do 911 GT1. Mas, em 1999, os regulamentos voltaram a mudar, e os carros do campeonato mundial de resistência passaram a ser equipados com motores V12. Mais uma vez, a Porsche não ia conseguir dar uso a estes motores V10.
O nascimento do Porsche Carrera GT
Fonte: Porsche/Divulgação
A Porsche viu-se então em mãos com várias dezenas de motores fabricados, “arrumados lá para um canto”, mas que não podiam ser utilizados de forma oficial em nenhuma competição.
O sucesso do primeiro (e muito controverso) SUV da Porsche, o Cayenne, permitiu à marca de Estugarda ter alguns marcos (moeda usada na Alemanha antes do euro) para poder investir num mega projecto: e assim nasceu o Porsche Carrera GT.
Apresentado ao mundo em 2003, este hiper carro da Porsche foi produzido até 2006, tendo sido fabricadas no total 1270 unidades.
O motor V10 de 5.5L foi “aumentado” para 5.7L, produzindo 612 cavalos de potência e 590Nm de binário às 8000 rpm.
Pesando apenas 1380kg, e sem quaisquer ajudas ao condutor (sem ESP, sem direcção assistida, sem controlo de tracção e sem ABS), e com uma caixa manual de 6 velocidades, este carro despachava os primeiros 100 km/h em apenas 3,6 segundos, os primeiros 200 km/h ao cabo de 10 segundos, e atingia uma velocidade máxima de 330 km/h.
Por ser um Porsche, por ser uma edição limitada, pela sua potência, pela sua beleza, e sobretudo, pelas suas características totalmente focadas no prazer de condução, este é sem dúvida, um dos grandes carros da história, e um dos últimos verdadeiros “drivers car” a ser construído.
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