A evolução do design automóvel: os anos 20

Os primeiros automóveis com motor de combustão começaram a circular na Europa no início do século XIX. No entanto, foi preciso esperar por 1886 (um ano antes do primeiro locomóvel ter chegado a Portugal e atropelado um burro…) para que se assistisse ao nascimento do automóvel moderno. O feito coube a Karl Benz com o Benz Patent-Motorwagen. Aliás, corrija-se: a patente foi requerida por Karl, mas foi a sua mulher, Bertha, a grande responsável pelo desenvolvimento do primeiro veículo projetado para ser movido com um motor de combustão. Porém, e sem tirar mérito ao visionário Karl, estávamos num período histórico em que qualquer feito de uma mulher casada pertencia ao marido.
Nesses primeiros anos, poucos se importavam com o design do objeto, concentrando-se no que lhe dava vida: o motor.
Até que, Gottlieb Daimler e Wilhelm Maybach, em 1889, criaram um veículo de raiz, em que repensaram a típica estrutura de carroça, que se observava nos tais locomóveis que já circulavam há alguns anos, criando a primeira carroçaria automóvel para receber um motor.
A verdadeira revolução no design, porém, deu-se com o lançamento do Model T por outro visionário: Henry Ford. O modelo, estreado em 1908, vendeu 15 milhões de unidades até à sua descontinuação, em 1927, e estabeleceu os parâmetros de design pelos quais outras marcas haveriam de conduzir: sem portas, para-brisas ou janelas… No entanto, não permaneceu imutável: ao longo dos anos, foi esticando, sobretudo na distância entre eixos e ganhou um tejadilho. E muitos concorrentes iam-lhe copiando o estilo.
Ainda assim, nos primeiros anos do século XX, um automóvel ainda se parecia mais com um trator do que com um carro. Foram as estradas pavimentadas que vieram trazer mais possibilidades ao design. Começando, novamente, nos EUA, onde as infraestruturas avançavam rapidamente. Chegaram assim os elegantes, mais longos e baixos, automóveis dos loucos anos 20.
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Com motores cada vez mais potentes e de maior dimensão (até de 16 cilindros!), o capô foi crescendo, criando uma espécie de nariz, emoldurado por ombros bem destacados, a envolver os rodados. E cada proprietário fazia por tornar o seu veículo mais luxuoso do que o do vizinho: começaram as pinturas personalizadas, os apontamentos em madrepérola ou o recurso a madeira para ornamentar o habitáculo, cada vez mais confortável, com assentos que envolviam os passageiros. Afinal, a maioria dos automóveis em circulação era construída por encomenda. E o luxo é cada vez mais evidente: é em 1925 que é lançado o primeiríssimo Rolls Royce Phantom, um saloon de quatro portas, no qual se destacam os polidos cromados e uma grelha imponente.
Se está a ter dificuldade em imaginar, bastará lembrar-se que o barulhento e muito poluente carro da vilã da Disney Cruella (com direito a filme homónimo nas salas desde 28 de maio) se inspirou no coupé Alvis dos anos 20. Outra excelente produção de Hollywood que permite vislumbrar o que se conduziu nos anos 20 é “O Grande Gatsby”, obra de F. Scott Fitzgerald, transposta para o cinema quatro vezes, a últimas das quais num filme de Baz Luhrmann, de 2013, com Leonardo DiCaprio, Carey Mulligan e Joel Edgerton.
Para mergulhar ainda melhor na história do automóvel na década de 20 do século passado, há um mudo a p/b, de 1927, que relata os passos dados na transição do cavalo ao automóvel — uma raridade de Roy Del Ruth, descrita pelo reputado The New York Times como uma obra “cheia de sentimento, mas ainda assim bom entretenimento”.
Porém, mais do que o design, os automóveis dos anos 20 vieram mudar mentalidades e abrir horizontes. Até porque, a cada ano que passava, tornavam-se mais fáceis e rápidos de produzir, chegando a cada vez mais gente. E, subitamente, era fácil percorrer longas distâncias e o feito estava ao alcance de (quase) qualquer um. Em cada automobilista, nascia um aventureiro. Fosse para longas jornadas, fosse para curtos passeios em família — e, provavelmente, nunca antes se fez tantos piqueniques em família longe do quintal da casa.
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