Já não é segredo nenhum que os carros elétricos são cada vez mais populares por toda a Europa, no entanto até agora faltou uma peça fundamental – as baterias europeias.
As baterias são componentes cruciais num carro elétrico, uma vez que ditam o peso, a autonomia e até o custo dos próprios automóveis. Ao serem produzidas no Velho Continente, a Europa poderá reduzir a sua dependência relativamente às importações de países asiáticos.
A dependência do Oriente
Atualmente, na Europa, já há um número bastante considerável de fábricas de produção de automóveis e de motores (elétricos e de combustão), no entanto não há produtores de baterias que permitam ter uma produção continental sem recorrer à exportação da Ásia.
Isto afeta em larga escala os fabricantes automóveis europeus, uma vez que dependem da Coreia do Sul ou da China. Para além desta dependência, já vimos como os cortes na China da produção de magnésio afetaram toda a indústria e o mesmo poderia voltar a acontecer com as baterias, caso não existissem produtores europeus. No limite, e em tempos de escassez de matérias-primas, os países produtores tendem sempre a proteger a indústria nacional.
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No entanto, esta dependência está prestes a mudar. A Northvolt, uma start-up sueca, fabricante de baterias, especializada em tecnologia de lítio para veículos elétricos, produziu a sua primeira célula de bateria de íon de lítio numa fábrica no norte da Suécia.
Esta é a primeira de uma série de novas fábricas que os investidores esperam que permita à Europa conquistar uma grande proporção do mercado de veículos elétricos e enfraquecer o domínio alcançado por fabricantes na China, Japão e Coreia.
Para Peter Carlsson, presidente-executivo e co-fundador da Northvolt, a produção da bateria de íon de lítio representou “um grande marco na indústria”.
A Northvolt será a primeira fábrica com proprietários europeus a produzir baterias na escala de “giga fábrica”, ou seja, capazes de produzir baterias suficientes a cada ano para fornecer cerca de 15 gigawatts-hora (GWh) de armazenamento cumulativo.
Atualmente existem apenas duas grandes fábricas de baterias que estão operacionais na Europa, no entanto são também propriedade do mercado asiático. Em Wroclaw, Polónia existe uma empresa de dados de baterias, gerida pela LG da Coreia, e outra fábrica na Hungria, administrada pela Samsung, também da Coreia.
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Mesmo assim, de acordo com a Benchmark Mineral Intelligence (BMI), há 25 giga fábricas planeadas para a Europa até 2030, com o intuito de acompanhar a crescente procura por carros elétricos. Nove destas vinte e cinco fábricas a serem construídas na Europa são de proprietários asiáticos.
Quanto às novas fábricas, atualmente sabe-se que a Tesla irá instalar uma giga fábrica em Berlim. A Mercedes-Benz juntou-se à empresa chinesa Farasis (empresa de tecnologia avançada de baterias de íon de lítio) e planeia instalar a sua fábrica de baterias na Alemanha. Já a Renault planeia também criar duas fábricas, uma em parceria com a Verkor e outra com a empresa chinesa Envision. Também a Stellantis vai investir em fábricas em França e na Alemanha, em parceria com a Total com a ACC respetivamente.
No que diz respeito a parcerias em Portugal, a Northvolt fez uma parceria com a Galp, para a construção de uma fábrica para a refinação e tratamento de lítio a extrair das minas do Barroso, que são atualmente apontadas como as de maior potencial em território europeu.
O CEO da BMI, Simon Moores, denominou a primeira célula da Northvolt como “a primeira bateria de íon de lítio da era das giga fábricas da Europa”.
A quem pertence a Northvolt?
A Northvolt, apesar de ser uma start-up, recebeu um forte apoio financeiro da maior produtora automóvel do mundo Volkswagen e do banco de investimento Goldman Sachs. A sua rodada de financiamento em junho foi avaliada em 12 mil milhões de dólares. A última rodada de financiamento teve apoio de novos investidores, incluindo os fundos de pensão suecos AP1, AP2, AP3, AP4, do fundo de pensão público OMERS, de Daniel Ek (CEO do Spotify) e da empresa de gestão de investimento Baillie Gifford.
Quanto aos planos para o futuro, a empresa espera expandir rapidamente a produção na fábrica de Skellefteå, no norte da Suécia, para produzir 60 GWh por ano, o que seria suficiente para fornecer baterias para um milhão de carros elétricos. “Ao longo dos próximos anos, esperamos que a Northvolt expanda bastante a sua capacidade de produção para permitir a transição europeia para a energia limpa.” disse Peter Carlsson, em um comunicado.
A maioria das baterias de carros elétricos do mundo é feita atualmente nos Estados Unidos da América e na Ásia, mas a Northvolt espera mudar isso.
Apesar de ter menos de 6 anos, a Northvolt assinou mais de 30 mil milhões de dólares em contratos com clientes, incluindo fabricantes automóveis como a BMW, Volkswagen, Volvo, Polestar, Scania e a empresa de armazenamento de energia Fluence.
Segundo a Northvolt, as entregas comerciais começarão em 2022, e a capacidade de produção aumentará para 60 gigawatts-hora nos próximos anos.
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