Os carros antigos não só são menos seguros e sofisticados, como gastam e poluem mais. Comprar um carro novo, mais moderno e tecnologicamente mais eficiente será sempre a opção mais amiga do ambiente. Mas será este o “timing” certo para o fazer?
Mais do que um meio de transporte, para alguns ter carro próprio é quase uma declaração estatutária, um objeto de desejo que desperta paixões e é tema de conversa.
Mas, este velho paradigma tende a desaparecer. Para a maioria dos portugueses, o preço e o consumo já são os principais critérios na compra de carro. Além de que, de acordo com estudos que analisam as tendências do mercado, os consumidores nacionais são cada vez mais sensíveis ao tema da ecologia e elegem mesmo os carros menos poluentes como os mais inovadores.
Comprar automóvel novo é, também por isso, cada vez mais sinónimo de uma escolha ambientalmente correta e consciente. Mais do que ser simplesmente sinónimo de estilo, status ou garantia de fábrica, o que, para muitos, significa obter um automóvel livre de problemas a curto médio prazo.
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Atualmente, a Europa tem o parque automóvel mais limpo e silencioso do mundo, consequência do investimento dos fabricantes no desenvolvimento tecnológico. Em 25 anos, a média de emissões de CO2 dos carros novos em 21 países europeus (incluindo Portugal) diminuiu de 186 g/km em 1985 para 106,7 g/km, de acordo com estudo mais recente da JATO Dynamics. Mas, mais e melhor, precisa-se.
Atualmente, dentro das fronteiras da União Europeia, circulam mais de 260 milhões de automóveis – e a idade média do parque português é de 12,8 anos, 2,8 anos mais do que a média na Europa. Pior: há mais de um milhão de viaturas com mais de 20 anos em circulação nas nossas estradas!
Carro novo, sim; SUV, talvez não…
Os híbridos, por contarem com máquinas elétricas que assistem o funcionamento dos motores de combustão interna a gasolina e gasóleo, consomem menos combustível e emitem menos gases de escape, promovendo a proteção ambiental (sim, os números dos fabricantes são inferiores aos da condução no quotidiano, mas os automóveis novos têm certificados de homologação que pressupõem o cumprimento de dezenas de diretivas e regulamentos para otimização da eficiência…). Mas se a procura de elétricos e híbridos em Portugal registou recordes nos primeiros meses do ano, com aumento de 89,7% na comparação com o mesmo período de 2021, simultaneamente, aumentaram as matrículas de Sport Utility Vehicles (SUV) para 42% do total do mercado – ligeiramente abaixo dos 45% registados a nível global. E a corrida ao formato da moda reduz as hipóteses de cumprimento das regras e metas ambientais. Os automóveis maiores e mais pesados consomem mais combustíveis fósseis e libertam mais emissões poluentes.
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É verdades que os SUV são atualmente os motores do crescimento do mercado automóvel na Europa (assentam nas mesmas arquiteturas técnicas dos carros tradicionais, representando margens de lucro maiores para os fabricantes). Mas na outra face da moeda está o impacto negativo nas emissões de CO2: média de 131,5 g/km.
O ambiente pode esperar?
Na urgência em reduzir emissões de CO2, mantendo abaixo de 1,5°C o aquecimento global nas próximas décadas, não há desculpas para travar a mudança do paradigma na mobilidade. E a começar nas escolhas individuais de cada um, por exemplo, na opção por um automóvel menos poluente. Mas, este não é definitivamente o melhor momento para trocar de carro.
Depois da pandemia que obrigou a parar fábricas em todo o mundo, a indústria automóvel debate-se com a falta de componentes como os semicondutores, que está a penalizar de forma severa a oferta, que é cada vez mais reduzida, o que levou a um agravamento generalizado dos preços. Comprar carro ficou mais caro no último ano. E vem outra crise a caminho.
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A guerra na Ucrânia está a afetar a cadeia de fornecimento e já ameaça uma nova crise de componentes na indústria automóvel. Depois da escassez de semicondutores (microchips), a associação alemã de fabricantes de automóveis (VDA) alerta para os problemas nas rotas de transporte e nas transações comerciais, explicando que há falhas no fornecimento do gás usado para produzir microchips para automóveis, proveniente da Ucrânia, também de paládio, um dos metais raros utilizados no fabrico de catalisadores (a Alemanha depende da Rússia para cerca de um quinto das importações) e minério de níquel, que é refinado para usar nas baterias de iões de lítio que equipam os veículos elétricos, importando do país invasor.
Mais urgente: de acordo com o “Automotive News Europe”, a Volkswagen, a BMW e a Porsche estão já com dificuldades em garantir o fornecimento de peças para as cablagens dos automóveis. Um carro novo tem entre 2 a 5 quilómetros de cabos, que se ramificam em dezenas de circuitos para todas as funções e sistemas, com centenas de pontos de ligação. As peças como os arneses para a fixação dos cabos elétricos começam a faltar.
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Muitos fornecedores, localizados no oeste da Ucrânia, encontram-se fechados devido ao conflito armando. É o caso da Leoni, uma das maiores empresas do mundo neste setor, com duas fábricas na região. As quebras no fornecimento destes componentes já obrigaram a paragens nas fábricas alemãs de Zwickau (onde são produzidos diariamente 1.200 automóveis elétricos) e Dresden, de onde saem os modelos Volkswagen ID.3, ID.4 e ID.5 e os Audi Q4 e-tron e Cupra Born. Também o Grupo BMW decidiu parar a produção nas fábricas em Munique e Dingolfing, ambas na Alemanha, e na unidade da MINI em Oxford, Inglaterra.
Por tudo isto, a escolha mais lógica será travar. E esperar por dias mais favoráveis à compra de carro novo e mais ecológico.