Carros usados: por que valorizaram tanto nos últimos anos?

O atraso no retorno à normalidade pós-pandemia causado pela guerra entre a Rússia e a Ucrânia continua a causar uma crise logística que afeta a economia global e, em particular, a indústria automóvel.
Apesar disso, a produção automóvel tem vindo a aumentar desde o início de 2021, mas após ter atingido um acréscimo homólogo de 25 por cento nos primeiros cinco meses de 2023, comparativamente ao ano anterior, um salto significativo face aos 8,3% no ano completo de 2022 em relação a 2021, espera-se que o corrente ano termine apenas com um crescimento da produção na ordem dos 5%.
Segundo a Associação Europeia de Produtores de Automóveis (ACEA) existe ainda um grande número de encomendas por satisfazer, com, em alguns casos, os prazos de entrega a atingir os 12 meses.
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Por tudo isso, os preços médios dos veículos usados têm vindo a aumentar progressivamente desde o início de 2021, quando se fixavam em cerca de 18.900€, e atingiam 23.750€ em junho de 2023, o que traduz um aumento de 26% face ao mês homólogo de 2021 (19.000€) e de 8% face a junho de 2022 (22.000€), segundo dados do estudo semestral do Standvirtual.
De qualquer forma, de acordo com os dados fornecidos pela BCA, relativos aos leilões, os preços médios das viaturas usadas demonstram alguma estabilidade no comércio e no retalho desde outubro de 2022 até junho de 2023.
“Os preços têm vindo a subir desde 2021 devido à maior procura em relação à oferta. No entanto, neste momento em que a oferta já supera a procura, os preços dos usados resistiram e mantiveram-se altos em relação aos períodos homólogos”, observa Nuno Castel-Branco, diretor geral do Standvirtual. E explica: “Embora o preço médio dos usados esteja estável desde o início do ano, com uma ligeira subida devido a automóveis e segmentos mais caros que entram no mercado e aumentam o preço médio geral, a maior oferta e o abrandamento da procura podem vir a tornar os preços mais competitivos e até a baixá-los, algo que já se começa a verificar internacionalmente e também em Portugal.”
As causas da valorização dos usados
Mas o que é que tem provocado esse aumento exponencial dos automóveis usados? Desde logo, as quebras de produtividade no que diz respeito a veículos novos, causadas pelos extensos confinamentos, que geraram uma fortíssima escassez em toda a cadeia de fornecimento.
Em simultâneo com a pandemia, a corrida às soluções de transporte individual e a preocupação com a segurança podem explicar a recuperação e posterior incremento da procura no mercado de usados.
Além disso, apesar da retoma de produção pós-confinamento, manteve-se um défice de componentes específicos, como os semicondutores, devido à enorme procura de dispositivos eletrónicos durante os confinamentos. A falta desses chips essenciais aos automóveis modernos atingiu o pico quando a China, um dos seus maiores produtores, decretou restrições à exportação de gálio e germânio, duas matérias-primas necessárias à sua fabricação.
As quebras de produção, e consequentemente de vendas de automóveis novos, deu um forte impulso aos preços dos usados. O mercado de veículos novos sofreu e ainda não recuperou desse impacto — e quanto menos novos chegarem às estradas, menos usados irão parar ao mercado, inflacionando os preços de veículos com quilómetros já percorridos.
Junte-se a tudo isso os condicionalismos na cadeia logística de transportes, com preços de fretes de contentores marítimos a aumentarem vertiginosamente, e o disparo dos custos com eletricidade a partir de fevereiro de 2022 devido à guerra na Ucrânia, e mais recentemente, o crescimento sem precedentes das taxas de juro.
Contingências à produção automóvel que só recentemente tenderam a perder expressão e que ainda se repercutirão nos próximos tempos.
Usados mais valorizados por segmento
Os segmentos mais caros em junho de 2023 são os coupé (32.750€), os SUV (30.895€), os sedan (30.235€) e os cabrio (25.715€). No entanto, os segmentos que registaram maior aumento de preços de junho de 2020 para junho de 2023 foram os citadinos e pequenos citadinos (preço sobe cerca de +32%), seguidos das carrinhas (+29%) e monovolumes (+28%). Todos os restantes segmentos registaram também um aumento de preço médio no primeiro semestre de 2023, face a anos anteriores, ainda que em menor intensidade.
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Também há boas notícias
Relativamente aos modelos mais representativos de carros usados no Standvirtual, com 50 mil quilómetros e motor Diesel, verifica-se que, a partir de janeiro de 2021, os preços começaram a descer ligeiramente. O Mercedes-Benz A180 teve uma diminuição de preço médio desde o início deste ano, passando de 32.000€ para 30.500€.
O mesmo acontece com o Nissan Qashqai, com um decréscimo do preço médio de 25.600€ para 23.500€. Seguem-se ainda o Renault Clio (que desce de 18.100€ para 16.900€) e o Renault Megane Sport Tourer (22.500€ em comparação com 21.400€).
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