Carros elétricos: será que a rede aguenta o aumento de carregamentos?

Na Noruega, onde mais de 80% das vendas de automóveis são de veículos elétricos e 20% da frota total já está eletrificada, o aumento no consumo de eletricidade foi de apenas 1,4 por cento, de acordo com fontes oficiais do Governo. Significa isto que, comparativamente ao impacto de outras indústrias, os carregamentos de veículos elétricos num país que aderiu massivamente à tecnologia é ainda assim reduzido.
Em Portugal, de acordo com os dados do portal MOBI.Data, durante o ano de 2022, o consumo simultâneo nos postos de carregamentos públicos nunca ultrapassou 25% da potência instalada, repartida pelos mais de 6000 postos em território nacional.
Traduzindo: o colapso da rede elétrica não é sequer um cenário plausível no panorama atual. Até final do ano passado, estimava-se que estariam em circulação mais de 27 milhões de veículos elétricos ativos no mundo, o que corresponde a capacidade elétrica teórica de cerca de 60 TWh na rede pública – apenas 0,2 por cento do consumo global. Mas será sempre assim?
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130 milhões de carros só na Europa
Um estudo de mobilidade elétrica realizado pelos especialistas da EY-Eurelectric revelou que, em 2022, a rede elétrica europeia era capaz de suportar mais de 100 milhões de veículos elétricos. Mas vários analistas alertam para a importância de reforçar toda a infraestrutura de fornecimento e carregamento para fazer face ao crescimento acelerado do número de veículos elétricos.
A questão é saber até que ponto a rede elétrica é robusta o suficiente para suportar cada vez mais utilizadores. De acordo com o referido relatório, existiam, a meio do ano passado, 3,3 milhões de veículos elétricos na Europa, para uma capacidade instalada em termos de infraestrutura de trinta vezes mais. Ou seja, segundo estes dados, dificilmente assistiremos no imediato a um cenário de pressão significativa nas redes de energia atualmente existentes.
Acontece que as estimativas oficiais apontam para que existam cerca de 130 milhões de veículos elétricos na Europa até 2035, muito acima do que a rede atual poderia suportar.
Daí que a aposta no planeamento não deva ser descartada. Os cálculos dos especialistas indicam que, até 2035, será necessário instalar 65 milhões de carregadores, dos quais mais de 85% serão em residenciais. E é necessária uma coordenação entre todas as autoridades e os vários intervenientes no setor da energia para garantir que são cumpridos os requisitos para lidar com os mais que prováveis aumentos de cargas e picos de procura de energia.
“A eletrificação é agora uma megatendência irreversível no transporte rodoviário. O desafio que temos pela frente é acelerar a implantação da infraestrutura de maneira bem coordenada para responder às crescentes necessidades de carregamento, garantindo o uso ideal da rede elétrica”, explicou Jean-Bernard Lévy, presidente da Eurelectric, associação para o setor elétrico a nível europeu.
Todos a carregar ao mesmo tempo
No relatório da EY-Eurelectric, outro ponto em destaque prende-se com as flutuações imprevisíveis na procura, que aquela entidade classifica como o resultado de uma quantidade desconhecida de condutores de veículos elétricos a carregar simultaneamente.
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“O carregamento sem uma gestão adequada pode criar problemas para a rede local e qualidade de energia. Aumentos rápidos e imprevisíveis na procura são suscetíveis de causar flutuações na tensão e perdas de energia. A montante, o impacte pode traduzir-se em aumento dos preços da energia”, pode ler-se no estudo, que explica ainda que o problema vai ser intensificado quando a eletrificação chegar aos veículos pesadas e as conexões à rede exigiram então ainda mais potência.
O desenvolvimento e integração de soluções de armazenamento de energia na infraestrutura de carregamento, para estas situações em que a procura por carregamento rápido e de elevada potência é aumentada, deve ser, defendem especialistas, uma prioridade do presente.
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