Se há marcas que têm uma presença marcante na história do automóvel é a italiana Alfa Romeo, nascida há nada menos do que 111 anos e que tanto se mostra capaz de desenvolver automóveis em grande escala como, desde o primeiro dia, brilhar nas corridas.
Tudo começou em 1906, quando um aristocrata de Milão se juntou ao francês Alexandre Darracq, que já se tinha aventurado no mundo automóvel com a criação da Automobiles Darracq France. Os dois criaram então a Società Italiana Automobili Darracq. Mas os resultados ditaram a morte precoce da empresa, dando lugar à A.L.F.A. (acrónimo para Anonima Lombarda Fabbrica Automobili), fundada a 24 de Junho de 1910. E a laboração foi quase imediata: nesse mesmo ano, o engenheiro Giuseppe Merosi comprometeu-se em criar dois carros, o 24 HP e o 12 HP.
No entanto, deparou-se com um enorme problema para fazer valer os seus produtos, quando foi declarada a Primeira Guerra Mundial. É certo que configurava uma oportunidade para criar veículos militares. Mas, ao contrário de outras marcas, a A.L.F.A. não estava preparada para se posicionar nesse segmento. E, quando falhou um contrato com o governo italiano para a construção de veículos militares, foi obrigada a iniciar um processo de insolvência, ainda que contasse com valiosos ativos na sua fábrica.
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Foram esses ativos que chamaram a atenção de um investidor que viria a completar o nome da marca: o napolitano Nicola Romeo. Os lucros não tardaram e, em 1918, é formalizada a criação da Società Anonima Italiana Nicola Romeo & C., mais conhecida por Alfa Romeo.
Dois anos depois, estreou-se aquele que foi o primeiro Alfa Romeo: ES Sport, que tinha como base o “Torpedo” 20/30HP, mas que mostrava a vontade de ser visto como um desportivo. Razão que levou Enzo Ferrari a iniciar a sua carreira nas corridas num destes modelos, ao lado de Antonio Ascari e Ugo Sivocci. Com um motor de 4 cilindros em linha, rendia 67 cv e atingia uma velocidade de 130 km/h.
A sua veia desportiva foi reforçada com uma carreira de vitórias (a primeira, em 1923, quando surgiu o trevo de quatro folhas no logotipo). Seguiram-se o GP de Lyon em 1924 e, no ano seguinte, o 1º Campeonato Mundial de Grandes Prémios.
Em 1927, entrou em ação o 6C 1500 que, na sua versão Sport, com motor DOHC, ganhou uma série de corridas, granjeando fama para a Alfa Romeo que só se tornou mais forte quando, na década de 30, passa a contar com Tazio Nuvolari, piloto que ficaria conhecido como O Homem Voador de Mântua…
A aliança com Enzo
Lembra-se de Enzo Ferrari ter começado a correr aos comandos de um Alfa Romeo? Na verdade, este aficionado pelo automobilismo desportivo nunca deixou de ter a marca debaixo de olho. E, alguns anos depois, tornou-se um concessionário da Alfa Romeo para as regiões Emilia-Romagna e Marche, fundando depois a Società Anonima Scuderia Ferrari para correr com a Alfa Romeo.
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Até que, no fim da temporada de 1932, as finanças da Alfa Romeo exigiram que fosse encerrada a divisão de competição. Foi nessa altura que a Scuderia Ferrari tomou o lugar da Alfa nas corridas. De seguida, a Alfa Romeo foi nacionalizada e aos seus comandos foi colocado Ugo Gobbato – consta que pelo próprio Benito Mussolini.
Entretanto, em 1937, a Alfa Romeo adquiriu 80% das ações da Scuderia, dissolveu a empresa, transferiu o seu equipamento para a Portello em Milão e refundou um departamento de corridas, a Alfa Corse. Enzo Ferrari foi nomeado diretor, mas acabaria por sair, dois anos depois, para criar a sua própria empresa.
Paralelamente, com o clima de tensão que se vivia na Europa e uma guerra mundial no horizonte, a Alfa Romeo, entretanto nacionalizada, começou a investir em veículos militares, produzindo camiões, carrinhas e também motores de aviação.
Com o fim da II Guerra Mundial e com a Itália a sair derrotada, Ugo Gobbato, cujo nome era associado a Mussolini, foi assassinado a 28 de abril de 1945, no mesmo dia que Il Duce.
Dos carros às cozinhas
Pasquale Gallo assume a direção da empresa, mas vê-se a braços com a destruição deixada pelos bombardeamentos durante o conflito. Por isso, não se limita a construir carros. Além de retomar a produção do 6C 2500, começou a investir no fabrico de cozinhas, persianas metálicas e materiais ferroviários. Não só por precisar urgentemente de faturar, mas porque a Itália era um país a precisar de matéria-prima para se reerguer.
O primeiro Alfa Romeo produzido em série
Foi em 1950 que surgiu o primeiro Alfa Romeo produzido em série: o 1900, com dedo do engenheiro-chefe Orazio Satta Puliga, foi lançado como “o carro da família que ganha corridas” e vendeu mais de 17 mil unidades. No mesmo ano, o Tipo 158 Alfetta, carro com que a Alfa Romeo se estreou na Fórmula 1, cruza a meta em primeiro lugar 11 vezes. Aos seus comandos, uma equipa de sonho: Nino Farina, Juan Manuel Fangio e Luigi Fagioli.
O sonho da F1 acaba depressa. Em 1951, Giuseppe Luraghi foi nomeado director-geral da Finmeccanica, a empresa que indiretamente era proprietária da Alfa Romeo, que estava decidido a apostar nos carros de produção em série. Para tal, Luraghi apoiou-se em Satta Puliga e em Rudolf Hruska para organizar a produção do Giulietta, o carro de gama média apresentado em 1955, que viria a vender 177 mil exemplares, o que, finalmente, mostrou que a Alfa Romeo estava no jogo entre os grandes construtores automóveis.
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Em 1962, o sucesso comercial repetiu-se com o Giulia e, uma década depois, com o compacto Alfasud. Pelo meio, houve folga financeira para regressar às corridas e até à ambicionada Fórmula 1: em 1975, entrou em pista com uma seleção de pilotos de excelência, como Giacomelli, Brambilla, Depailler, Andretti, Patrese e Cheever.
A entrada da Alfa Romeo na Fiat
As dificuldades financeiras voltaram a fazer-se sentir em 1985 e, desta vez, a companhia é posta à venda a privados. As propostas são várias, mas é a também italiana Fiat a levar a melhor, e uma injeção de otimismo atravessa a Alfa Romeo, sobretudo quando começa a lançar produtos de sucesso. Casos do 156 (1997) e do 147 (2000), eleitos Carro do Ano.
A vontade de acelerar mais rápido venceu e, em 2007, a Alfa Romeo voltou a investir nos superdesportivos, com o exclusivo 8C (apenas foram produzidas mil unidades, nas versões coupé e spider). Mas, mesmo com os sonhos desportivos que acalentam a alma da marca, a racionalidade deu cartas, com o lançamento do MiTo, em 2008, criado para conquistar uma fatia de clientes jovens.
Em 2010, ano de centenário, é lançado o novo Giulietta, seguindo-se, um ano depois, o 4C, com o qual a marca conseguiu regressar ao mercado norte-americano e abrir caminho a uma nova e fresca geração de automóveis, como os bem conseguidos Giulia e Stelvio, ambos com apimentadas declinações Quadrifoglio.
E o futuro não se desenha triste. A Alfa Romeo comprometeu-se a lançar um modelo novo por ano até 2026, por isso há novidades à espreita.
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