A necessidade de democratizar a mobilidade a par com a crise petrolífera de 1973 pôs a Ford a trabalhar num projecto que, até então, tinha recusado: construir um automóvel pequeno, com o qual podia conquistar uma importante fatia do mercado europeu.
O Fiesta foi idealizado pela equipa de Trevor Erskine e teve o “sim” de Henry Ford II, em setembro de 1972, para passar a modelo de produção. A proposta final de um modelo que se viria a posicionar abaixo do Escort (e, posteriormente, do Focus) foi desenvolvida por Tom Tjaarda e supervisionado pelo chefe de design da Ford na Europa, Uwe Bahnsen. A aprovação final chegou no fim de 1973, graças à colaboração dos centros de engenharia da Ford em Colónia (Alemanha) e Dunton (Reino Unido).
A estimativa apontava para uma produção de 500 mil unidades por ano, objetivo ambicioso que levou a Ford a investir em novas infraestruturas: uma fábrica perto de Valência, em Espanha; uma fábrica de eixos de transmissão perto de Bordéus, em França; e a expansão das unidades de montagem em Dagenham, no Reino Unido.
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O nome Fiesta (que significa “festa” em espanhol) pertencia à General Motors, que o usava para designar um nível de acabamento nas carrinhas Oldsmobile. Mas acabaria por ser cedido gratuitamente à Ford para ser usado no seu novo carro do segmento B para rivalizar com o Fiat 127, o Renault 5 ou VW Polo, dando início a uma aventura automobilística.
A história terminaria 47 anos depois, com a produção das últimas unidades, a 7 de julho, na fábrica de Colónia, mas vale a pena recordar o caminho deste modelo, que vendeu mais de 22 milhões de exemplares, ao longo de sete gerações.
Primeira geração, MK1 (1976-1983)
A estreia do Fiesta deu-se com o motor Valencia de 957 cc, com quatro cilindros em linha, e motores de 1117 cc.
O Fiesta Mark I americano foi construído em Colónia, mas com especificações ligeiramente diferentes e incluía o motor de 1596 cc, para-choques com absorção de energia, luzes de presença laterais, faróis redondos selados e melhor dinâmica de colisão e integridade do sistema de combustível, bem como ar condicionado opcional.
Uma variante desportiva (1.3 L Supersport) foi proposta na Europa para o ano modelo de 1980, utilizando o motor Kent Crossflow de 1.3 litros. Foram adicionados acabamentos em plástico preto ao exterior e ao interior. Os faróis pequenos e quadrados foram substituídos por faróis circulares e os piscas dianteiros foram deslocados para o para-choques.
No final de 1981, surgiram pequenas revisões em toda a gama, sobretudo por questões relacionadas com a segurança.
Segunda geração, Mk2 (1983-1989)
Uma nova geração chegou aos mercados no verão de 1983, com revisões estéticas, mas também com um interior mais confortável.
Os motores Kent/Valencia de 957 e 1.117 cc continuaram apenas com ligeiras alterações e, pela primeira vez, foi produzido um Fiesta a gasóleo com um motor de 1.600 cc adaptado do Escort. Já o 1.3 foi descontinuado e substituído pelo 1.4.
Foi nesta geração que surgiu a versão XR2, com um motor de 1,6 litros com 96 cv e uma caixa de cinco velocidades.
Terceira geração, MK3 (1989-1997)
O Fiesta Mark III de terceira geração, com o nome de código BE-13, foi apresentado no final de 1988, chegando aos mercados no ano seguinte.
Assente numa nova plataforma, que substituía o eixo traseiro por um de torção semi-independente, tinha um aspeto muito diferente das anteriores gerações, até porque, finalmente, apresentava-se com as desejadas cinco portas.
Nas mecânicas, passa a disponibilizar o Diesel de 1,8 litros e a versão desportiva 1.6S CVH 90 foi substituída pelo XR2i (mais tarde designado por “Si”), com 104 cv. Nesta geração, destaque ainda para o RS Turbo (mais tarde RS1800), com jantes de liga leve distintas e grelha RS.
Quarta geração, Mk4 (1995-2002)
O Fiesta de quarta geração perdeu as versões RS1800 e RS Turbo, mais voltadas para o desempenho, mas ganhou maior habitabilidade e um estilo cuidado tanto no interior como no exterior.
O modelo apresentava uma gama de novos motores, disponíveis nas versões de 1,25 e 1,4 litros, além do Diesel de 1,8 litros, com ligeiras modificações para melhorar consumos.
Nessa geração, o Ford Fiesta tinha um gémeo: o Mazda 121, com igual design, os mesmos componentes e saído da mesma linha de produção. E o carro nipónico, apesar de ser em tudo igual ao Fiesta, roubou-lhe as atenções, com os consumidores a preferirem-no pela fiabilidade.
Quinta geração, Mk5 (2002-2008)
A chegada de um novo milénio obrigou a Ford a repensar o seu utilitário, agora com um visual moderno e jovial, que atraiu as atenções. Passa também a incluir travões ABS e airbags para os passageiros.
Os motores iam do 1,0 litros ao Diesel de 2,0 litros. Em 2005, um facelift foi aproveitado para introduzir tecnologias que começavam a impor-se no mercado: Bluetooth, MP3, faróis automáticos e espelhos retrovisores exteriores rebatíveis.
A variante mais expedita era a ST, com um motor a gasolina de 2,0 litros com expressivos 150 cv.
Sexta geração, Mk6 (2008 – 2016)
Em 2008, o mundo teve de se retrair com a maior crise financeira dos últimos quase cem anos. E a Ford percebeu ter aqui a oportunidade de ouro para colocar o Fiesta novamente entre os preferidos, sendo o primeiro modelo da marca a apresentar-se verdadeiramente como global: um Fiesta na Ásia era igual ao que se encontrava na Europa. Essa opção permitiu reduzir significativamente os custos de produção.
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Foi ainda nesta geração que foram introduzidos o motor EcoBoost de 1,0 litro, premiado pela sua economia e desempenho, e o EcoBoost de 1,6 litros e 180 cv a dar vida ao Fiesta ST.
Sétima geração, Mk7 (2016 – 2023)
A geração de despedida será uma das mais completas. Além das versões de três e cinco portas, o Fiesta foi abrilhantado com as variantes Active e Vignale: o primeiro, com um código estético inspirado nos SUV para imprimir robustez ao veículo; o segundo, a casar duas ideias antagónicas, luxo e preço acessível.
Em 2021, um facelift trouxe novos equipamentos de segurança e um bilhete de despedida: o Fiesta estava de saída do mercado, depois de mais de 22 milhões de unidades vendidas e de ter sido fabricado nos quatro cantos do mundo: África do Sul, Alemanha, Argentina, Brasil, China, Espanha, Índia, México, Reino Unido, Taiwan, Tailândia e Venezuela.
Os dois últimos Fiestas que saíram da linha de produção da Ford em Colónia serão mantidos pela marca: um ficará na Alemanha e o outro será enviado para o Reino Unido e colocado na sua coleção histórica.
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