A palavra ‘buggy’ pode ter vários significados e se começarmos a recuar no tempo com o objetivo de tentar descobrir as suas origens, vamos chegar a um ponto em que um buggy era o nome que se dava a uma carruagem de duas ou quatro rodas, puxada por um cavalo, de forma a poder transportar mercadorias ou outros produtos. Mas atualmente, quando falamos de buggy, por norma, estamos a referir-nos àqueles modelos que costumam habitar junto de zonas de praia, com enormes rodas e motores potentes motores, destinados a dar uma ajuda nos momentos em que é necessário transpor dunas e zonas de areia.
Nesse caso, continua a ser obrigatória a tal viagem no tempo, mas agora, podemos escolher o final dos anos 50 e o início da década de 60 para falarmos sobre estes modelos. E já agora, selecionamos a Califórnia como destino. O crescimento da modalidade do surf, as pranchas mais longas e os Beach Boys a tocarem em diversas rádios foram o cenário ideal para começar a levar mais pessoas até às praias. E muito rapidamente, surgiu a necessidade de encontrar veículos com capacidade para transportar pessoas, pranchas e sobreviver no meio das dunas de areia e chegar às praias com as melhores ondas, as quais nem sempre tinham o melhor acesso.
O pioneiro Meyers Manx e o seu criador Bruce Meyers
Bruce Meyers era um surfista do sul da Califórnia que, no início dos anos 60, continuava a assistir à dificuldade que os Jeep e modelos de outras marcas continuavam a ter para conseguir tração nas dunas de areia. Em alternativa, a solução criada por alguns entusiastas de cortar a carroçaria do Beetle e de adicionar pneus mais largos parecia-lhe muito mais viável. E até estava de acordo com o que se lembrava da sua infância, quando personagens como o Mickey Mouse e o Donald Duck usavam sempre carros pequenos, mas com rodas enormes. Tudo isto, aliado à sua experiência na construção de barcos em fibra de vidro, deu-lhe uma ideia que viria a transformar o mundo dos modelos fora-de-estrada.
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Na sua garagem de Newport Beach, Meyers começou a trabalhar num Volkswagen Beetle, retirando-lhe a carroçaria e reduzindo um pouco a sua distância entre eixos. O motor, continuou arrumado atrás do eixo posterior, uma vez que esta era uma das condições essenciais para a utilização de um Beetle e para a distribuição de peso necessária ao circular pelas dunas de areia. Por cima de tudo isso, adicionou uma peça única de fibra de vidro, que incluía pára-lamas sobredimensionados, uma cobertura para a zona dianteira, um painel traseiro e uma zona lateral um pouco mais rebaixada para permitir um melhor acesso a bordo. Passados 18 meses, o primeiro Meyers Manx Dune Buggy, conhecido por “Old Red” estava pronto. Meyers registou o desenho e começou a vender o kit de transformação por cerca de mil dólares, não incluindo o preço do Beetle “dador”.
Segundo Meyers, os para-lamas dianteiros tinham uma zona mais plana para se conseguir colocar duas ou três cervejas e as laterais eram apenas altas o suficiente para evitar levar com lama ou areia na cara. A compatibilidade com os elementos do Beetle era obrigatória, claro, mas a suspensão traseira acabou por ser reforçada com componentes provenientes de uma pick-up da Chevrolet. A sua construção tinha de ser simples o suficiente para que qualquer pessoa o pudesse fazer, mas em todos os detalhes restantes, o objetivo foi mesmo misturar formas femininas com um toque de aventura ao jeito de Mickey Mouse. Acima de tudo, os Dune Buggies tinham de transmitir uma ideia de diversão, uma vez que não havia nada do género nessa altura.
Apesar de tudo, os momentos iniciais desta aventura foram tudo menos divertidos. Os primeiros kits a serem comercializados, revelaram-se bastante complicados de utilizar, o que resultou em apenas 12 unidades construídas e obrigou Bruce Meyers a alterar o conceito para uma versão que fosse apenas aparafusada ao chassis de um Beetle. A simplicidade do novo kit e o facto de ter passado a custar praticamente metade do preço do primeiro, transformaram o Meyers Manx num enorme sucesso.
Um início fantástico, mas um pesadelo para Meyers
A imagem mais “cool” dos anos 60 fez com que os Buggies de Meyers tivessem uma enorme procura, sendo que a empresa não conseguia responder à procura. E o facto de algumas celebridades, como Elvis Presley e Steve McQueen terem sido vistas a conduzir alguns destes modelos, ainda fez com que o número de encomendas fosse cada vez mais elevado.
Bruce Meyers continuou a desenvolver o seu projeto e a comercializar o Meyers Manx, num total de seis mil unidades criadas. Mas o facto de haver outras empresas em busca deste mesmo “filão”, fez com que surgissem projetos semelhantes, com que Meyers entrasse em diversas batalhas de tribunal e que o resultado tivesse sido o encerramento da B.F. Meyers & Co. em 1971.
Segundo algumas estimativas, calcula-se que o número de Buggies produzidos nessa altura tivesse superado a fasquia das 300 mil unidades, devido ao surgimento de diversas empresas que se limitaram a copiar o projeto de Meyers. Ainda hoje, em países como o Brasil, por exemplo, há diversas empresas que transformam o Beetle original num Buggy, fazendo com que este se torne num dos veículos de eleição para explorar áreas mais próximas da praia, sendo mesmo um passeio de culto para diversos turistas.
Numa espécie de continuidade e visão futurística deste conceito, está prevista uma versão elétrica do Meyers Manx, equipada com um motor de 205 cavalos e com uma autonomia que pode chegar aos 480 quilómetros. E depois há ainda o Concept ID.Buggy apresentado pela própria Volkswagen em 2019 e que marcou presença do evento de Pebble Beach, na Califórnia, há três anos, mas que nunca passou para a fase de produção.
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