Tudo começou em janeiro de 1934, com um memorando em que Ferdinand Porsche resumia as ideias de um carro que iria motorizar a população alemã. Afinal, um compêndio técnico genial com tudo o que deveria ser o carro do povo.
Em junho, Porsche é incumbido de arrancar com o promissor projeto. As três primeiras unidades do protótipo chamado V3 são apresentadas em fevereiro de 1936, data que marca também o arrancar do processo de desenvolvimentos dinâmicos que se arrastou por dois anos, em mais de 2,4 milhões de quilómetros de testes, na região da Floresta Negra, no Sudoeste do país.
A 3 de julho de 1938, o resultado foi finalmente revelado: o Volkswagen 38, ou KdF Wagen (como era inicialmente conhecido como o carro da organização nazi KdF), apresentou-se com um motor boxer de quatro cilindros arrefecido a ar, com 986 cc e 24 cv.
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A Segunda Guerra Mundial interrompeu o processo de fabricação. E só após o final do conflito, em 1945, a administração inglesa que controlava a região se interessou por este projeto, bem como pela recuperação da fábrica de Fallersleben. Em agosto, a autoridade militar britânica recupera a fábrica da Volkswagen, para equipar as forças vencedoras com 20 mil Carochas. A produção recomeça em dezembro.
A internacionalização do mítico Carocha
A exportação começou em 1947, através dos irmãos holandeses Pon, com uma encomenda de 56 unidades para a Holanda (atual Países Baixos), as primeiras para fora da Alemanha. No ano seguinte, as primeiras duas unidades chegam aos Estados Unidos, iniciando a fabulosa carreira do modelo do lado de lá do Atlântico.
O sucesso do Carro do Povo estava lançado. Em Portugal, a forma do Volkswagen 38 rapidamente o tornou conhecido como Carocha, mas cada país utilizava a palavra correspondente: Käfer na Alemanha, Cocinelle em França, Beetle em Inglaterra, Escarabajo em Espanha, Maggiolino em Itália, Fusca no Brasil e Vocho no México. No início dos anos 1950, o Carocha era um carro mundial, exportado para 86 países. A marca atinge o primeiro milhão de unidades produzidas em agosto de 1955, mas em menos de uma década o mito já contava com mais de seis milhões.
Pouco depois, em 1968, a Volkswagen assume oficialmente a designação popular Beetle para várias campanhas publicitárias. E é como Beetle que o carro do povo continua a acelerar de recorde em recorde.
Em 1972, com 15.007.034 unidades, ultrapassou o recorde de produção do Ford T. Dois anos depois, o último Carocha saiu da linha de Wolfsburgo. E, em 1978, o Carocha despede-se da outra fábrica alemã, em Emden.
O Carocha em Portugal
O Carocha foi fabricado ou montado em vinte países, como Filipinas, Nigéria, Nova Zelândia, Peru, Singapura, Tailândia ou Uruguai, além dos comummente conhecidos como Alemanha, México ou Brasil. E até em Portugal, onde foi montado entre 1964 e 81.
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No total, foram fabricadas 21.529.464 unidades, tendo o máximo da produção sido atingido entre 1968 e 1973, com o número incrível de 1,2 milhões de unidades por ano.
De acordo com os registos oficiais, em Portugal venderam-se 63 mil exemplares do Carocha. Número insignificante para os 9,7 milhões de carros vendidos na Europa, a maior parte (6,1 milhões) no mercado alemão. A América foi, no entanto, o continente onde o clássico da Volkswagen foi mais vendido, com qualquer coisa como 10,7 milhões de matrículas, 4,9 milhões nos Estados Unidos, 3 milhões no Brasil e 1,7 milhões no México, o último bastião do Carocha (ou do Vocho, se preferir).
El Vocho: o último adeus ao Carocha mexicano
A fábrica de Puebla, 110 km a leste da Cidade do México, foi onde, às 9h05m do dia 30 de julho de 2003, a Volkswagen fabricou o último Carocha, o Vocho, naquele importante mercado.
A derradeira unidade da série especial Última Edición, limitada a 3000 exemplares, está hoje na Alemanha, no museu da marca, mas o mítico Carocha é ainda atualmente um símbolo daquele país da América do Norte, com quase dois milhões de carros em circulação – muitos são táxis.
Ao fim de 57 anos de produção, o Volkswagen Carocha recolhia-se definitivamente ao lugar dos grandes símbolos da indústria automóvel. E não foi só por vender milhões em todo o mundo que o Volkswagen se tornou numa lenda. A forma como ricos e pobres, conservadores ou revolucionários, hippies e yuppies idolatraram aquele carro robusto e de conceção simples com o motor boxer na traseira permanece algo irrepetível até aos dias de hoje.
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